De acordo com pesquisa divulgada recentemente pela Circana, o consumidor de skincare no Brasil vive um momento “beauty burnout”. “Chegamos a esse ponto por uma combinação de excessos. Nos últimos anos, fomos expostos a um volume inédito de lançamentos, rotinas complexas e promessas muitas vezes inalcançáveis. A beleza passou a ser quase uma obrigação de performance constante, com mais produtos, mais etapas, mais correções. Quando o cuidado deixa de ser prazer e passa a ser cobrança, o esgotamento é inevitável”, afirma Carolina Xavier, fundadora da nova marca de skincare Juvia.
Ela diz que o “beauty burnout” é, na prática, um pedido por mais coerência, simplicidade e verdade e que a Juvia surge da percepção de que o mercado precisava desacelerar e ressignificar o cuidado. “Não queríamos ser mais uma marca que adicionasse ruído, mas sim uma que filtrasse o essencial. A Juvia surge como uma resposta ao cansaço de rotinas excessivas e narrativas irreais, oferecendo um cuidado que faz sentido no ritmo da vida real.”
A Souu Beauty, que também chegou ao mercado há poucos meses, foi criada com a mesma proposta minimalista. “Sou mãe, empresária e esposa. Era um verdadeiro ‘luxo’ conseguir parar tudo e fazer aqueles rituais de skincare de 10 ou 12 passos que o mercado colocava como ideal”, diz a co-fundadora e diretora criativa Bruna Elisa.
Incômodo gerado por não conseguir cumprir uma rotina complexa de cuidados
Para ela, quando uma mulher não segue esses rituais, parece que não é vaidosa o suficiente ou até que falta algo em sua feminilidade. “A Souu nasce desse incômodo. Eu não queria mais me sentir culpada por não conseguir cumprir uma rotina complexa, mas queria me cuidar, e percebi que muitas mulheres sentiam o mesmo.”
Assim com a Juvia, a Souu foi lançada com um portfólio bastante enxuto – atualmente tem cinco itens. “O mercado está vivendo um movimento de retorno ao essencial. Desde o início, sabíamos que seríamos uma marca de essenciais, não por limitação, mas porque isso traduz o que acreditamos sobre autocuidado. As pessoas não precisam de uma prateleira cheia, mas de produtos que conversem entre si, que entreguem resultados reais e que caibam na rotina. Excesso nunca foi sinônimo de eficácia”, diz Elisa.
Segundo a empresária, toda pessoa precisa de uma rotina simples como ponto de partida: limpeza, hidratação e proteção solar. “Essa é a base. A partir disso, se houver necessidades específicas, como pele acneica, oleosa ou sensível, entramos com produtos funcionais que tratam essas disfunções de forma direcionada, sem transformar o cuidado em um processo exaustivo.”
Diante desse cenário, volta a ter destaque no mercado brasileiro o skinimalismo. “Trata-se da prática de reduzir a quantidade de produtos usados na rotina de skincare, priorizando aqueles que realmente atendem às necessidades da pele. Ela promove o uso consciente de cosméticos e evita a sobrecarga de ativos na pele, que podem causar irritações, sensibilização e até mesmo desregulação da barreira cutânea”, explica o dermatologista Rafael Tomaz, gerente médico da Galderma.
Eficácia de uma rotina de skincare não está quantidade de produtos utilizados
Ele aponta que, mais do que uma tendência, o skinimalismo é uma abordagem fundamentada na ciência e no bom senso. “A eficácia de uma rotina de skincare não está no número de produtos utilizados, mas na escolha de ativos específicos e cientificamente comprovados.”
Para a co-fundadora da Souu Beauty, o skinimalismo ganha força no Brasil não porque é “o movimento do momento”, mas porque responde à necessidade genuína de uma rotina de cuidados possível, que cabe no ritmo de vida atual e que não depende de inúmeras etapas para funcionar. “Quem escolhe uma abordagem mais minimalista não o faz por modismo, mas porque se identifica com essa forma de cuidar da pele e entende que menos, neste caso, pode significar melhor.”
Xavier concorda, dizendo que a indústria precisa investir em mais inovação, com menos promessas grandiosas e mais clareza sobre o que cada produto faz, para quem e por quê. “O consumidor brasileiro está aprendendo a valorizar escolhas mais conscientes, com produtos que realmente entregam valor. Nesse contexto, o skinimalismo deixa de ser moda e passa a ser uma resposta natural a um mercado que, por muito tempo, confundiu quantidade com cuidado.”


















