Victor Hugo Pacagnelli Infante, farmacêutico bioquímico da Faculdade de...

Victor Hugo Pacagnelli Infante, farmacêutico bioquímico da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto

O farmacêutico bioquímico Victor Hugo Pacagnelli Infante, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), realizou uma pesquisa em que avaliou a relação de homens jovens com hábitos de proteção solar e cosméticos e verificou que ainda há rejeição deste público ao uso do protetor solar. "A utilização de cosméticos está culturalmente associada ao público feminino e homossexual. A cultura machista associa qualquer prática dita como feminina de forma inferior e menos relevante. Desta forma, o uso de produtos dessa categoria acaba sendo colocado em segundo plano", explica Infante.

Apesar de ter um papel fundamental na prevenção do câncer de pele, o protetor solar ainda encontra resistência do público masculino, segundo o pesquisador. “Entre 300 entrevistados com idade média de 26 anos, vimos que mais da metade (54%) dos homens não usa filtro. Apenas 20% deles declaram utilizar todos os dias”, afirma Infante. Além disso, a necessidade de reaplicação do produto durante o dia, que geralmente é feita na frente de outras pessoas, inibe alguns homens. "Muitos dos entrevistados disseram não utilizar o produto porque precisavam reaplicar fora de casa. Em nenhum momento o preço foi um fator limitante e o sensorial de um produto em relação ao outro foi limitante apenas entre os entrevistados que confirmaram já ter hábitos de fotoproteção".

Infante afirma também que o homem brasileiro não apresenta um perfil de cuidado com sua saúde de forma preventiva, algo muito associado ao filtro solar e aos produtos de cuidados com a pele. "O envelhecimento é encarado de forma diferente para a mulher e para o homem, pesando muito mais para o público feminino". O pesquisador colheu, em laboratório, 450 imagens da pele dos homens analisados, que permitiram avaliar em tempo real as características cutâneas de cada um e diferenciar os grupos que utilizam filtro solar dos que não usam nenhum tipo de proteção para a pele. “Nós detectamos um fotoenvelhecimento precoce da pele dos jovens que não usam fotoproteção”, afirmou Infante.

Dados de mercado – A rotina de cuidados pessoais já foi mais associada às mulheres, mas há uma tendência de mudança deste cenário, afirma a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). A entidade cita dados da Euromonitor que confirmaram a curva de crescimento deste mercado, que registrou alta de 6,1% em 2017 em relação ao ano anterior.

Na categoria de produtos para proteção solar, o mercado global atingiu US$ 10 bilhões em 2017, de acordo com levantamento da Mintel citado pela ABIHPEC. Os números apontam o Brasil como o segundo maior mercado consumidor, com 11% de participação, e o segundo maior consumidor de produtos masculinos. "Os números demonstram que os homens brasileiros estão cada vez mais abertos às novidades do mercado de autocuidado. Porém, não costumam gastar mais de 30 minutos diários em cuidados com a aparência", explica a ABIHPEC. Neste cenário, uma das estratégias viáveis para conquistar este público seria oferecer produtos multifuncionais que tenham aplicação rápida e prática.

Sunscreen (photo credit Pixabay)

Sunscreen (photo credit Pixabay)

Em comparação com o ano passado, o mercado brasileiro de protetores solares cresceu 2,3%, aponta a ABIHPEC, o que pode ser reflexo da intensa comunicação sobre os efeitos negativos da exposição solar e os sinais de seu impacto na própria pele (incluindo vermelhidão, irritação e ressecamento). "Além disso, a proteção solar do rosto vem ganhando representatividade no mercado nacional, influenciada pela divulgação constante sobre os benefícios do uso regular na pele a longo prazo. Mesmo que o brasileiro não tenha uma rotina completa de cuidados com o rosto, o uso da proteção solar é visto por muitos como o principal produto a ser usado para prevenir linhas, rugas e manchas escuras", complementa a entidade.

Infante afirma que busca entender, com sua pesquisa, as maneiras como o público masculino poderia ser sensibilizado para a importância do uso do protetor solar. "Os resultados do estudo podem ser uma forma de sensibilizar o público. Entretanto, em tempos de intolerância, cultura antiacadêmica e fake news, mesmo estas descobertas podem ser vistas de forma distorcida ou ignoradas".

O pesquisador explica que tem ressalvas quanto à segmentação por gênero, mas o filtro solar masculino pode ser uma forma de aproximação deste público com a fotoproteção. "Se os homens acreditam que determinado produto foi criado para eles, podemos conseguir, aos poucos, reduzir essa barreira machista. Mesmo que a formulação do produto não seja segmentada tendo em conta diferenças biológicas entre a pele de homens e mulheres, é bom lembrar que essa segmentação já atingiu até produtos para a higiene oral", citando o creme dental Closeup White Attraction Men, lançado em 2016.

O trabalho de Infante, intitulado "Pesquisa e Desenvolvimento de produtos cosméticos para o público masculino com óleos essenciais: caracterização da pele, eficácia clínica, perfil de consumo e influência da publicidade", recebeu o Prêmio Albert Kligman durante o congresso mundial International Society For Biophysics And Imaging of the Skin (ISBS), realizado em maio deste ano, nos EUA.