O Brasil está entre os principais mercados de perfumaria, ocupando a terceira posição em valor e a segunda em volume no ranking mundial. Segundo a Euromonitor International, o mercado de massa deve alcançar a receita de R$ 44,3 bilhões até 2027, um crescimento de 42,1% no acumulado desde 2022. Já para o mercado premium, a expectativa é de atingir R$ 6,8 bilhões, com aumento de 89% neste mesmo período.

Dentro do segmento premium, a perfumaria de nicho brasileira vem evoluindo, com o surgimento de marcas independentes e criações autorais. “Não existem pesquisas voltadas especificamente para o mercado de perfumaria de nicho no Brasil. É um segmento novo, com poucos players e ainda em construção no país, mas com um potencial muito grande para se desenvolver”, afirma Fabio Ottaiano, CEO da Lenvie.

A marca foi criada em 2011, inicialmente com produtos para a casa. “Foi uma questão de oportunidade. Em muitos países, a perfumaria de casa já era bem consolidada e não tínhamos grandes marcas nacionais voltadas a isso. As fragrâncias pessoais foram lançadas em 2019 (hoje são dez versões). Começar com perfumaria para casa foi muito estratégico, pois conseguimos penetração, uma boa distribuição e reputação de qualidade, o que nos deu confiança para dar o próximo passo”, justifica o executivo.

Criações autorais são veículos de autoexpressão

A Becquer, fundada há pouco mais de um ano, seguiu passos parecidos. Primeiro vieram os produtos para casa, em seguida, perfumes pessoais em formato roll-on.A aceitação foi excelente, então os Eau de Parfum vieram naturalmente com a evolução da marca. A perfumaria pessoal sempre esteve nos planos e chegou no momento certo, quando a marca já tinha maturidade sensorial e identidade suficientes para expressar o que realmente queríamos dizer através de um perfume”, conta o sócio fundador Fernando Skiarski.

De acordo com o empresário, os 15 EDPs compartilháveis lançados pela Becquer têm muita personalidade e não passam despercebidos. “Queremos que nossos clientes vivam sua essência plenamente e que nossos produtos sejam veículo de autoexpressão.” Para ele, há uma tendência crescente de consumo de produtos exclusivos. “Não no sentido de preço, mas de como são desenvolvidos e disponibilizados. As pessoas estão buscando experiências muito mais do que bens materiais.

Foi com essa premissa que Ana Christina Gudme fundou a Gávea Perfumes em 2023, trabalhando com o conceito de “drops limitados”. “Identificamos uma oportunidade de atender mulheres brasileiras sofisticadas, que buscam autenticidade e expressão de individualidade através do perfume. Com o modelo de drops, criamos um senso genuíno de exclusividade. São coleções limitadas, que garantem que nossas clientes tenham acesso a fragrâncias verdadeiramente raras.

Investimento prioritário na qualidade olfativa

Ela conta que a perfumaria da Gávea é desenvolvida com identidade própria, já que não segue tendências de mercado. “Isso nos dá liberdade criativa para desenvolver fragrâncias autênticas. Trabalhamos com composições olfativas complexas e matérias-primas nobres selecionadas, já que no mercado de nicho o investimento prioritário está na qualidade olfativa.

Mesmo posicionada na categoria premium, a perfumaria de nicho não costuma ter embalagens luxuosas. “O foco é 100% na fragrância. Se pudéssemos entregar o perfume sem nenhuma embalagem, seria o ideal. Como isso é impossível, usamos frascos e embalagens que não competem por atenção com as fragrâncias, que são as verdadeiras protagonistas”, diz Skiarski.

Para ele, o mercado de nicho deve crescer no Brasil e a Becquer se prepara para acompanhar a evolução. A marca inaugura até o final do ano sua quarta loja em São Paulo e uma quinta é prevista para o início de 2026 na mesma cidade. “Estamos avaliando outros modelos para levar a experiência Becquer a mais pessoas.

Ottaiano diz que a Lenvie também está em um momento de expansão e que a primeira loja física está nos planos. “Nosso foco é ampliar a presença da marca no mercado nacional, mas já estamos presentes em alguns países da América Latina, como México, Uruguai e Chile. Não tenho dúvida de que a perfumaria de nicho nacional vai ser grande e respeitada e não apenas internamente. O Brasil tem um branding forte e uma criatividade única. Acredito que o país tem potencial de criar fragrâncias realmente diferentes do que existe por aí e ser referência também no mercado internacional.