Em um ano em que boa parte da população deixou de sair de casa para realizar atividades cotidianas como trabalhar, estudar e encontrar amigos, o mercado de perfumes poderia sofrer perdas. Mas não foi o que aconteceu no Brasil. De acordo com a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), o segmento de perfumaria cresceu 8,4% nas vendas de janeiro a dezembro de 2020, comparando com o mesmo período do ano anterior.

A alta do dólar, as restrições de viagens ao exterior e uma qualidade maior dos perfumes nacionais podem explicar esse crescimento. “Os brasileiros cada vez mais se surpreendem com as ofertas nacionais de perfumes que, além de oferecerem altíssima qualidade, vem recebendo investimentos constantes em inovação nos últimos anos”, afirma João Carlos Basilio, presidente-executivo da ABIHPEC.

O ano de 2020 foi desafiador para todos”, diz Olindo Caverzan Júnior, diretor geral da Água de Cheiro. “Realinhamos algumas expectativas, ajustamos os passos e, mesmo em meio à situação caótica, conseguimos manter a rede de franqueados e abrir novas operações”. A empresa, que em um cenário pré-Covid havia previsto inaugurar 80 pontos em 2020, conseguiu encerrar o ano com 30 unidades a mais na rede.

Cecília Rascovschi, diretora criativa da CR Beauty

Em vendas, a alta foi de 23% diante da receita de 2019. Para o executivo, a busca pelo bem-estar despertada na pandemia aliada a um sentimento de “eu mereço” fizeram a categoria girar. “Além disso, investimos mais em mídia, incluindo TV aberta, tivemos lançamento de produtos e ações especiais com grandes marcas”, ele cita. A linha #Self[ie], que une conceitos pop e nostalgia, ganhou mais fragrâncias e uma edição limitada com miniaturas dos Ursinhos Carinhosos, personagens ícones dos anos 1980.

Novos players também surgiram na categoria, como a CR Beauty, lançada em dezembro de 2020. “Sou da filosofia que mar calmo não faz bom marinheiro”, afirma a diretora criativa Cecília Rascovschi. Ela conta que em meio à segunda onda da Covid-19, a nova marca de perfumaria investiu em uma estratégia digital, trabalhando com um time de influenciadores. “Entendemos que tínhamos que aproveitar aquele momento, em que consumir não estava na prioridade das pessoas, para levar informação sobre a CR e os produtos e não forçar a venda”, explica.

As fragrâncias não são determinadas por gênero (femininas e masculinas), mas de acordo com famílias olfativas: florais, frutais, amadeiradas, cítricas, aromáticas e orientais. “Em muitos países, já é natural você gostar de determinada fragrância sem se preocupar se existe um ‘para ele ou ‘para ela’ no rótulo. É evidente que existem notas que agradam mais a homens e outras mais ao público feminino, mas não quisemos segmentar nossos produtos dessa forma. Nosso propósito é construir uma perfumaria livre e de alta qualidade”, diz a empreendedora.

Outra novidade vem do Grupo Boticário. Além de lançar sua marca de perfumaria fina O.U.i, o conglomerado também fez uma investida recente nesse segmento por meio da Vult. Especializada em maquiagens, a empresa apresentou sua primeira linha de fragrâncias, que foi criada em colaboração com Gabriela Sales, conhecida pelo perfil Rica de Marré.

Apostamos na força do movimento de cocriação e na parceria com uma das maiores influenciadoras de beleza do Brasil para solidificar a entrada da marca na categoria”, justifica Diego Costa, diretor de marketing de perfumaria do Grupo Boticário.

Segundo o executivo, as três novas fragrâncias já apontam resultados muito promissores. “Estamos atentos ao comportamento do consumidor e sabemos que a sua relação com a perfumaria mudou durante a pandemia. Mas, por ser uma categoria que gera alta conexão emocional, ela não deixou de ser consumida, mesmo dentro de casa”, diz Costa.