Ciência e natureza, por um lado, e conexão e desconexão, por outro lado, formam os dois espectros de tendências identificados para o setor de cosméticos pela Mintel, agência especializada em pesquisas de mercado, que publicou recentemente um relatório sobre as perspectivas do mercado mundial de beleza para 2030.

Uma nova visão da ciência e da natureza

"Nos próximos dez anos, os consumidores vão tentar explorar melhor as relações entre natureza e ciência. Os progressos registrados na área de softwares, equipamentos informáticos, aplicativos e realidade aumentada serão o gatilho para a quarta revolução industrial, modificando radicalmente a maneira como os consumidores escolhem e compram os produtos cosméticos e como interagem com as marcas", explica Sarah Jindal, Senior Global Analyst, Innovation and Insights, da Mintel Beauty & Personal Care.

No âmbito da dicotomia entre "ciência e natureza", haverá uma mudança no que os consumidores consideram natural ou "clean".

"À medida que os produtos resultantes de pesquisas laboratoriais chegarem ao mercado, os consumidores vão se sentir mais à vontade com a biotecnologia. Paralelamente, eles começarão a desconfiar quando virem indicações como ’clean’ e ’green’ no rótulo dos produtos e passarão a prestar mais atenção à lista de ingredientes, questionando a real eficácia dos cosméticos", continua Sarah Jindal. "Graças à biometria, as empresas poderão interagir de forma mais inovadora e individualizada com os consumidores, oferecendo a eles soluções personalizadas com alto valor agregado".

Segundo previsões da Mintel, em 2030 a "beleza limpa" terá se tornado o padrão da indústria. O mercado dará ênfase à transparência e à busca de valores éticos e ecológicos, em vez de focar no marketing do medo. "Apenas as marcas capazes de oferecer total transparência e evitar mal-entendidos na comunicação com os consumidores conseguirão se sobressair", ressalta Sarah Jindal.

Resíduo zero, ingredientes naturais valorizados por laboratórios e pesquisas em engenharia, processamento de dados e transparência são algumas das palavras-chave dessa primeira tendência.

Conexão e desconexão

Alternando conexão e desconexão, os consumidores têm buscado uma tribo com a qual se identificar. Nesse processo, as marcas de cosméticos desempenham o papel de facilitadoras.

"Nossas previsões indicam que, na próxima década, veremos uma polarização ainda maior: os consumidores estarão cada vez mais divididos entre o grande fluxo de informações que os inundam e suas próprias emoções, e hesitarão entre estar ou não conectados. Enquanto, por um lado, os serviços a distância permitirão que consumidores menos próximos tenham acesso ao mercado global, por outro lado um número crescente de pessoas tentará se desconectar, procurando estabelecer novos vínculos com o mundo real", explica Sarah Jindal.

Paralelamente, os consumidores estão perdendo a capacidade de se aproximar humanamente uns dos outros, justamente em um momento em que o acesso à gigantesca massa de informações gera uma série de efeitos nocivos e coloca em causa a noção de autenticidade.

"Cada compra será cuidadosamente ponderada, pois tudo indica que os consumidores vão adotar uma atitude minimalista, investindo em produtos de alta qualidade que ofereçam excelente desempenho e que, na medida do possível, possam ser reutilizados", ressalta Sarah Jindal.

Nessa segunda tendência, as palavras-chave são personalização, serviços, dados biométricos, simplificação dos cuidados da pele, ingredientes cultivados no espaço e diversidade de culturas e estilos.

Em um mundo de crescente polarização, a próxima década será determinante para a indústria mundial de beleza e cuidados pessoais, prevê a Mintel.