Muitas mulheres indianas começam a usar produtos de clareamento na infância. (Foto: © Bhupi / IStock.com)

Cansada de ouvir que deveria embranquecer sua pele quando criança, a estudante indiana Chandana Hiran simboliza a luta contra a obsessão da Índia por uma pele clara. Para a jovem, cuja petição online contra o creme clareador Fair & Lovely da Unilever foi assinada por dezenas de milhares de pessoas, a decisão da multinacional de mudar o nome de produtos cosméticos que usavam termos como "fair", "light" e "white" já é uma vitória.

"Eles prosperam vendendo insegurança para as mulheres", disse Chandana Hiran. “A história de marketing deles é que, se você tem pele escura, não pode conseguir nada na vida. Como uma menina de pele escura, eu sempre pensei que talvez ... seria melhor ter uma pele mais clara."

De acordo com a Bloomberg, a Unilever faturou US $ 500 milhões na Índia no ano passado, graças à marca Fair & Lovely.

Sob pressão do movimento "Black Lives Matter", as gigantes de cosméticos L’Oréal e Johnson & Johnson também anunciaram medidas semelhantes.

Mas os detratores do "colorismo" na Ásia, uma discriminação baseada no tom de pele, consideram que essas iniciativas não cortam o problema: preconceitos enraizados na sociedade.

Preconceitos fortemente enraizados

Na Índia, a pele pálida está associada à riqueza e beleza, especialmente para as mulheres.

A colonização britânica da Índia reforçou o conceito de "colorismo", mas já estava totalmente estabelecido no sistema tradicional de castas que estrutura a sociedade desse país de 1,3 bilhão de habitantes, segundo os pesquisadores. "O preconceito é que as castas superiores têm pele mais clara que as castas inferiores", explica Suparna Kar, socióloga da Christ University em Bangalore.

Esse estereótipo é perpetuado nos filmes de Bollywood, onde as atrizes costumam ter uma aparência clara, e na publicidade. Os jornais indianos estão cheios de anúncios de casamentos de conveniência que exigem candidatas com pele "branca leitosa".

Muitas mulheres indianas começam a usar produtos de clareamento na infância. Empregada doméstica de 29 anos em Nova Délhi, Seema aplica o creme "Fair & Lovely" desde os 14 anos. Todas as mulheres da família usam. Agora também sua filha de 12 anos. "Quando vejo publicidade sobre cremes para clareamento da pele, parecem um bom produto", diz. "Mostram que quando as pessoas ficam mais brancas, encontram trabalho e recebem propostas de casamento".

Sudeste da Ásia também

Essa preferência pela pele branca não é exclusiva da Índia e se espalha por uma grande parte do continente asiático. Nas Filipinas, por exemplo, muitos homens e mulheres usam substâncias branqueadoras. Uma tez mais clara está associada a uma "personalidade agradável", diz Gideon Lasco, antropólogo da Universidade das Filipinas

Para muitos especialistas, esses preconceitos expuseram gerações de mulheres à rejeição de seus corpos e à baixa autoestima. Além disso, alguns produtos adulterados apresentam riscos significativos à saúde: podem conter níveis perigosos de mercúrio ou hidroquinona.

Mas para os ativistas, levará tempo para mudar esses preconceitos bem estabelecidos. Na Índia, uma nação de 1,3 bilhão de pessoas, os produtos clareadores representam cerca de metade do mercado de cuidados com a pele.

Mas os tempos estão mudando e muitos ativistas acreditam que as gerações futuras olharão para o mundo - e para si mesmas - de maneira diferente.