Fernanda Soro, gerente de marketing Latam da Sensient

Os salões de beleza e lojas de cosméticos foram fechados em quase todo o mundo com o início da crise do novo coronavírus. Em alguns segmentos, as perdas logo foram sentidas, como maquiagens, já em outras, isso não ocorreu. “Nos EUA e alguns países da Europa, a categoria de unhas se beneficiou com a Covid-19”, afirma Fernanda Soro, gerente de marketing Latam da Sensient Technologies.

Citando matérias publicadas recentemente na imprensa internacional, a executiva da empresa de corantes e ingredientes para a indústria de cosméticos, aponta dados expressivos de crescimento. “Apenas na primeira semana de confinamento, as inglesas compraram 18% mais esmaltes do que costumam comprar. A venda de top coats e bases foi maior ainda”, exemplifica.

Já nos EUA, de acordo com a McKinsey, entre os produtos de beleza destinados ao segmento “Do it yourself” (DIY), ou “faça você mesmo”, o setor de unhas foi o que mais faturou entre março e abril deste ano. Comparando com o mesmo período de 2019, as vendas subiram mais de 200%.

“Com base nessas informações, pensou-se que a categoria de unhas poderia seguir esse mesmo comportamento no Brasil, ou pelo menos que ela se mantivesse estagnada durante a pandemia. Só que, infelizmente não foi isso que aconteceu”, lamenta Soro.

A GlobalData vem revisando as previsões para o mercado brasileiros de cosméticos a cada 15 dias desde o início dessa crise e agora projeta uma alta queda nas vendas de artigos de nail care em 2020. Segundo a empresa de consultoria e análise de dados, haverá um decréscimo de 17%, em relação ao ano passado. Antes da pandemia, o cenário apontava um possível crescimento em torno de 3% no faturamento no Brasil.

Isso serve de alerta. Temos que ser cada vez mais criativos para tentar reverter esse número”, diz a gerente. Para ela, com o início da flexibilização da quarentena, isso pode ser alterado. “Não deve haver nenhuma mudança brusca se a gente não tomar uma posição como indústria num curto tempo, mas a queda pode ser menor”.

Soro aponta algumas razões para essa diferença entre o mercado brasileiro de unhas e outros países citados. “Acreditava-se, no início da crise, que seguindo o exemplo internacional, as pessoas fossem comprar esmaltes pelo e-commerce e continuar a fazer as unhas em casa, o que não se confirmou. Muitos brasileiros não estão habituados a fazer compras online”. Para ela, além de não saber como realizar as compras virtuais, a população ainda desconfia do serviço e tem medo de cadastrar seus dados na internet. “Tudo isso atrapalhou demais, porque, com tudo fechado, quem vendia era loja online”, acrescenta.

A recessão econômica no Brasil também é citada pela executiva. “O mundo inteiro está sendo impactado com a Covid-19. Mas aqui, a situação é pior. Nosso índice de desemprego já está enorme e ainda estamos enfrentando uma crise política”, afirma.

Mas Soro confia em uma retomada gradual do mercado de unhas no país. De acordo com números já revisados pela GlobalData, a categoria deve crescer 3,9% até 2024, sendo o maior índice entre todos os itens de maquiagem. “Quando nossa vida se normalizar, a categoria vai voltar a ganhar força. A mulher brasileira gosta de ir ao salão semanalmente, faz parte da nossa cultura. É um momento de relaxamento e relacionamento social. Nos sentimos bem de unhas feitas, isso melhora nossa autoestima”, completa.