Juliana Martins, Mintel

O time global de especialistas de beleza da consultoria identificou tendências a partir do monitoramento do comportamento dos consumidores e dos produtos disponíveis no mercado. No Brasil, o entrave maior deverá ser o custo vinculado ao desenvolvimento de novas tecnologias e a difícil manobra que as marcas de cosméticos precisam fazer para que um novo produto entre no mercado local, segundo a analista sênior de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel, Juliana Martins.

Uma das tendências aponta para a importância da utilização de ingredientes naturais e de recursos locais no processo de fabricação dos cosméticos. De um lado, os consumidores demandam cada vez mais elementos naturais e sustentáveis nos produtos; de outro, os recursos da natureza demonstram escassez crescente. A solução para este impasse recai sobre a biotecnologia por meio da criação, através da ciência, de produtos seguros e que preservem o ecossistema.

É o caso do ácido hialurônico, um dos ingredientes mais populares em produtos de cuidados com a pele e maquiagens. “Ele era tradicionalmente derivado de uma fonte animal, mas o aumento da demanda impulsionou a busca por novas matérias-primas. O ácido hialurônico de hoje é fabricado usando células bacterianas em ambiente laboratorial", exemplifica Martins.

No Brasil, há algumas empresas de biotecnologia e um grande potencial a ser explorado, mas muitas companhias ainda não têm patentes depositadas no país, explica a analista. "A maioria das inovações tecnológicas é desenvolvida dentro de institutos de pesquisas e universidades. Com a crise econômica brasileira, os fundos governamentais para pesquisa são escassos."

Marcas que baseavam seus lançamentos na idade, no gênero e no tipo físico dos consumidores precisarão se esforçar para incluir as mais variadas noções de beleza do seu público através da personalização e customização dos produtos. Em um país com enorme diversidade étnica como o Brasil, esta tendência é ainda mais importante, mas muitos fabricantes terão que se adaptar. "As marcas de produtos para os cabelos finalmente têm dado importância aos consumidores de cabelos cacheados e afro. Porém, marcas de cosméticos para pele negra e mestiça são raras no Brasil", afirma Martins.

Esse movimento dialoga também com um perfil mais consciente do consumo e da relação com o corpo. Um relatório da Mintel de 2017 mostrou que 33% dos millennials gostariam de ver mais anúncios com pessoas de diferentes tipos físicos. "Não são mais os consumidores que precisam se adaptar aos produtos, mas as marcas que têm que adequar seus produtos às demandas do público", destaca a analista.

Outra tendência sinaliza para a exigência de personalidade e propósito nas marcas. Com as questões ambientais e éticas em pauta, as iniciativas das empresas deverão devolver benefícios reais à sociedade. "Os brasileiros estão preocupados com o que consomem em dois níveis: o efeito dos produtos na sua própria saúde e seu impacto no meio ambiente", esclarece Martins.

A tecnologia digital, por meio de dados biométricos, e a inteligência de informações serão cruciais para detectar o desejo de compra dos consumidores, gerar insights sobre os hábitos de consumo e oferecer produtos sob medida. Segundo Martins, a evolução da era digital tem levado os consumidores a usarem todos os canais de venda disponíveis: loja física, internet, dispositivos móveis e mídias sociais. O comportamento omnishopper é adotado por 79% dos brasileiros, segundo uma pesquisa da empresa Criteo. A analista reforça que, independente do canal escolhido, a expectativa do consumidor é de que a decisão de compra seja facilitada.