Líder global em dados e consultoria, a Kantar Worldpanel acaba de divulgar um novo estudo sobre o impacto do novo coronavírus no comportamento de consumo dos brasileiros, tendo em vista as medidas de isolamento social adotadas pelo Ministério da Saúde. Entre os setores afetados com a pandemia no país está a indústria de cosméticos, higiene pessoal e perfumaria.

Elen Wedemann, diretora geral da Kantar no Brasil

O confinamento traz mudanças significativas para hábitos em geral”, afirma Elen Wedemann, diretora geral da Kantar no Brasil. Até a data analisada, em meados de março – ainda no início da disseminação da doença no país –, 42% dos brasileiros já diziam ter alterações na rotina diária e 78% só saiam de casa para atividades essenciais, como compras em supermercado e farmácias ou para resolver questões bancárias.

Neste período, 23% das pessoas já relataram estar trabalhando de casa para evitar o contágio. Isso implica em aproximadamente 10 ocasiões a menos de cuidados pessoais a cada semana, o que faz com que algumas categorias sintam diretamente as consequências da quarentena”, explica Wedeman. Segundo ela, mais de um bilhão de ocasiões estão em risco. “Sabemos que 21% das ocasiões de uso dessa cesta são voltadas para o ato de se arrumar para ir ao trabalho ou à escola e 4% voltadas para o ato de sair e socializar”, acrescenta.

A categoria que será mais afetada negativamente pelo isolamento social no Brasil é a de maquiagem. “Os hábitos de higiene e beleza femininos são significativamente mais impactados que os masculinos”, aponta a executiva. De acordo com o levantamento, na cesta de cuidados pessoais das mulheres 15 categorias têm potencial para serem impactadas, contra sete utilizadas pelos homens.

Depois das maquiagens, estão no ranking banho/hair care. “Quem fica em casa lava 8% a menos o cabelo”, revela Wedemann. Depois aparecem no ranking fragrâncias, hidratação facial/corporal e, em quinto lugar, está o desodorante. “O consumo desta categoria também está em risco, considerando que 40% das oportunidades de uso de desodorante no Brasil são relacionadas a se preparar para trabalhar ou ir à escola”.

Segmentos ligados ao público masculino também devem sofrer alterações com a quarentena. “As mudanças nos hábitos em relação à barba tendem a ser importantes, considerando que 32% dos homens afirmam se barbear estritamente por motivos profissionais”, relata a diretora geral. Em números, isso pode acarretar em menos 21 milhões de ocasiões de uso. Só as lâminas de barbear devem ter uma queda de 12%.

Soma-se a isso o fato de que muitos brasileiros optaram por tirar as barbas neste momento da pandemia. Apesar de não haver recomendação oficial dos órgãos de saúde, muitos infectologistas sugerem que seja uma medida de higiene a mais para evitar o contágio da doença.

Em meio a esse cenário crítico, algumas categorias de cuidados pessoais devem ter um destino diferente. Entre elas, estão oos sabonetes. De acordo com o estudo da Kantar, o consumo dos sabonetes, que normalmente é bastante estável, teve um aumento de 6% no período analisado. Hidratantes para as mãos também parecem ter uma boa oportunidade durante a pandemia. “Entre os entrevistados mais de 26% disseram que ficam com as mãos secas após as lavagens”, cita a executiva.

Apesar do Brasil ser o segundo país no mundo mais preocupado com os efeitos da covid-19 (até o dia 16 de março, o coronavírus preocupava muito 60% dos brasileiros), atrás apenas da China, o levantamento da consultoria aponta que os impactos devem ser de curto prazo. A previsão de crescimento econômico no país em 2021 segue inalterada.