A indústria de cosméticos é pautada por lançamentos. Novas cores, fragrâncias e texturas atraem consumidores ávidos por novidades e movimentam o mercado de beleza. Mas lançar produtos durante a pandemia de coronavírus, com grande parte da população em isolamento social e pontos de vendas fechados, não seria um risco?

Mariana Cury, gerente de hair care da Genomma Brasil

Para a Sol de Janeiro não foi. A marca inspirada no Brasil e distribuída pela Sephora lançou às vésperas do início da quarentena nos Estados Unidos sua primeira fragrância e foi um sucesso. Com as lojas fechadas no país, a produção que já havia sido distribuída pela rede foi redirecionada para as vendas online e se tornou best-seller no e-commerce da multimarcas, vendendo 900% a mais do que a segunda fragrância.

No Brasil, muitas empresas de cosméticos seguiram com o calendário de lançamentos. Uma delas foi a Revie, que ampliou seu portfólio de tratamento capilar com uma linha detox. “Mesmo durante a quarentena, as mulheres consomem produtos de higiene e beleza e se interessam pelo assunto. Manter o cuidado pessoal e buscar a beleza são formas de elevar a autoestima, o que contribui para melhorar o estado de espírito neste momento tão complicado de isolamento social”, afirma Mariana Cury, gerente de hair care da Genomma Brasil, grupo detentor de marcas como Cicatricure e Asepxia.

A Sallve também apostou nesta estratégia, mas só depois de ouvir seus clientes. “Entramos em contato com a nossa comunidade e perguntamos o que eles achariam de um lançamento acontecendo durante a quarentena. As respostas foram muito positivas, então decidimos seguir com o planejamento de lançar o hidratante firmador”, revela o CEO e sócio fundador Daniel Wjuniski.

O fechamento do comércio não essencial não alterou as expectativas da Sallve, já vende seus produtos apenas no próprio site. Mas, para tornar o novo produto mais acessível neste período, a empresa adotou uma política de frete gratuito para todo o país. “Como a marca construiu um público muito engajado, os clientes já tinham conhecimento de que uma novidade estaria chegando. Para divulgar o hidratante para pessoas fora das redes Sallve, contamos com um time de influenciadores digitais”, diz Wjuniski.

Já a Revie teve que repensar a logística para introduzir a linha detox no mercado. “Com o varejo de portas fechadas, foi planejada uma distribuição eficiente em lojas de departamento e drogarias que seguiram em funcionamento, além de parceiros com e-commerce”, explica Cury. Apesar do momento desafiador, ela se mantém otimista em relação ao lançamento. “Obtivemos resultados muito satisfatórios em uma pesquisa de uso feita pela Nielsen. Por isso, acreditamos no sucesso desta linha, assim como nos outros produtos Revie”, acrescenta.

Um passo mais arriscado foi dado pela Nascittá Cosméticos, que foi inaugurada já em meio à pandemia no Brasil. “Foi uma estratégia, trazer algo novo nesse momento em que muitas mulheres estão se sentindo solitárias, algumas até sofrendo com problemas depressivos. Queremos fazer com elas levantem a cabeça e aproveitem esse momento para se cuidarem mais”, afirma a CEO e fundadora Bruna Araujo.

Apostando em parcerias com influenciadoras digitais e frete grátis em todo o Brasil, ela diz que, apesar do nascimento da marca não ter acontecido da forma como desejavam, um novo caminho está sendo traçado e planeja lançar mais cosméticos.

Wjuniski conta que a Sallve teve que fazer mudanças no cronograma dos próximos lançamentos, principalmente por conta do acesso dificultado a algumas matérias primas. Mas, por ora, ele comemora os resultados com o novo produto. “Acreditamos que seria um sucesso, mas as expectativas foram superadas. Atingimos a meta de vendas e conseguimos um ótimo engajamento nas redes sociais”, finaliza.