Lâminas de barbear, loções pós-barba e sabonetes são apenas o começo da atual revolução masculina no mercado brasileiro de cosméticos. Esse setor dobrou de 2009 para cá e a estimativa é que continue crescendo 7,1% ao ano até 2019, quando o Brasil deve se tornar o maior mercado do mundo na categoria, com vendas estimadas em US$6,7 bilhões, segundo a Euromonitor International.

Produtos de cuidados com os cabelos da linha Natura Homem

A pesquisa realizada pela consultoria indica que a venda de produtos para barbear, sabonetes e xampus dedicados a esse público no Brasil somou US$ 4,7 bilhões em 2014, um aumento de 99,4% em relação a 2009. A cesta de compras é cada vez mais diversificada e a liderança do Brasil será puxada sobretudo pelos produtos para banho, com crescimento previsto de 111%, entre 2014 e 2019. Desodorantes (53%), cuidados com os cabelos (38%) e produtos para barbear (32%) aparecem na sequência.

Segundo Marcela Viana, analista de pesquisa da Euromonitor International, a combinação entre o aumento de renda observado nos últimos anos e a entrada de novos consumidores nesse mercado será responsável por levar o Brasil à liderança no ranking. “Percebemos dois blocos de consumidores masculinos: os pioneiros foram os mais novos, que provaram itens para os cabelos, fragrâncias e outros produtos. Agora vemos também adultos e idosos buscando esses cosméticos”, aponta. Os fabricantes também têm um papel fundamental na alavancagem do país nesse mercado, ressalta Viana. “A indústria está reagindo de uma maneira muito positiva, fomentando o crescimento do segmento e lançando muitos produtos exclusivos para homens.

Criada como uma farmácia no Rio de Janeiro em 1870 e hoje um conhecido player da indústria de cosméticos, a Granado tem cerca de 40% do seu público formado por homens. Há quatro linhas de produtos para eles: Glicerina, com sabonetes de glicerina vegetal em barra e líquido; Antisséptica, com produtos de ação antisséptica, fungicida e antibacteriana; Barbearia, que tem como diferencial o sabonete de barbear para quem faz a barba no banho ou na sauna; e a linha Granaderma, de dermocosméticos.

Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado, diz que a empresa tem observado o comportamento desses consumidores, especialmente nas 40 lojas-conceito espalhadas pelo Brasil. “Percebemos um aumento considerável de pais comprando itens da linha Bebê, o que mostra que o homem moderno está mais presente na vida dos filhos. Outra característica é a fidelização aos produtos. O uso do polvilho antisséptico, o produto mais antigo da Granado, é passado de geração em geração.

A Natura também tem um portfólio dedicado ao público masculino, que vai de perfumaria e desodorantes até cremes, espumas, hidratantes e itens para os cabelos. “Além de praticidade, os homens buscam eficiência e diferenciais na composição. Por isso, a indústria da beleza vem investindo na criação de produtos com tecnologia de ponta e para áreas cada vez mais específicas. Um dos nossos destaques é a possibilidade de os homens comprarem produtos online pela Rede Natura, o que combina muito com a praticidade exigida por eles”, destaca Alessandro Mendes, diretor de desenvolvimento de produtos da Natura.

Amanda Sergio e Christoph Mayer-Loos, fundadores do e-commerce Shop4Men

Viana, da Euromonitor, observa que, diferentemente da mulher, o homem não tende a comprar por impulso. “Ele é muito mais criterioso e paciente com esse consumo”, afirma. Christoph Mayer-Loos, um dos criadores do e-commerce Shop4Men, dedicado à venda de produtos masculinos, corrobora com o perfil assinalado por Viana. “São compradores exigentes, de 20 a 45 anos. Na maioria das vezes, a primeira compra é de algum produto que já conhece; porém, após descobrir que existe um universo muito mais amplo, a recompra acaba sendo maior, com itens variados”, descreve.

A empresa, criada no ano passado, surgiu depois que Mayer-Loos procurou uma cera de cabelo e só a encontrou em sites femininos. Contrariando o cenário de crise, o negócio vem crescendo e o fundador espera chegar a um faturamento de R$ 2 milhões até o final do ano. Por mês, são vendidos mais de 2 mil cosméticos, entre marcas nacionais e internacionais. Da indústria brasileira, Mayer-Loos revela que a maioria tem a barba como foco, como as fabricantes Sobrebarba e Dr. Jones. Mas os itens oferecidos confirmam a expansão do portfólio para esse público, indo além dos produtos tradicionais. “A Dr. Jones tem redutor de gorduras abdominais, exfoliante para o rosto e desodorante para os pés”, complementa o empresário.