Nos últimos anos, o mercado da beleza acompanhou uma explosão de barbearias pelo Brasil. De acordo com a Euromonitor, entre 2012 e 2016, houve um crescimento de mais de 500% deste tipo de negócio no país, aquecendo também o setor de franquias. Desde 2015, o número de franquias dedicadas ao segmento mais que dobrou, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Pensados essencialmente para atender às necessidades dos homens, esses espaços têm visto seu público não apenas aumentar como se diversificar, passando a receber também mulheres. Marcos Caruso, proprietário da Paint Black, em São Paulo, diz que atualmente a cada 10 clientes que recebe em sua barbearia, duas são mulheres.
“O número tem crescido a cada dia, assim como profissionais interessados pela área”, afirma Tiago Costa, barbeiro e visagista da rede de salões Jacques Janine. Ele foi um dos primeiros no Brasil a se especializar no mercado feminino, em 2015. “Notei a demanda de meninas que queriam raspar a cabeça, mas não conseguiam encontrar quem fizesse esse serviço”.
Costa explica que a barbearia feminina se difere de um simples corte curto. Ao invés de tesoura, os instrumentos usados são a navalha e a máquina de corte. Já as técnicas precisam levar em conta os traços da face da mulher para chegar a um resultado leve e delicado, “como a nuca arredondada e as costeletas mais finas”.
Na Paint Black, que além de barbearia tem estúdio de tatuagem, as clientes são “mais descoladas, ligadas em moda e tendências”, define Caruso.
No Jacques Janine do Shopping Center Norte (a primeira unidade da rede a contar com o serviço), em São Paulo, a clientela é mais diversa. “Atendo mulheres que estão passando por tratamentos que comprometem a saúde dos fios, como quimioterapia ou alopecia, outras que estão em transição capilar e querem fazer o ‘big chop’, sem abrir mão do estilo”, diz Costa. “Mas tem também as desejam mudar radicalmente o penteado ou simplesmente adotar um corte moderno e prático, que não necessita muito mais que uma breve secagem e pomada ou cera para estar pronto”.
Para a barbeira Camila Murena, a demanda de mulheres em busca pelo serviço ainda é pequena, uma vez que “o mundo das barbearias ainda é dominado por homens”. Afinal um espaço que é frequentado majoritariamente por homens e onde grande parte dos funcionários também é do sexo masculino, pode afugentar possíveis clientes.
Buscando não separar, mas unir os públicos, Murena trabalha em um misto de salão de beleza tradicional e barbearia moderna, também instalado na capital paulista, o Viva La Vida. “A mulher escolhe a barbearia ao se sentir familiarizada com o ambiente”, afirma.
O proprietário da Paint Black também busca atrair uma clientela plural. “Acredito que existe espaço para todo mundo, o que não podemos é segmentar ou ter rótulos. Cliente é cliente e, independente do gênero, o tratamento deve ser igual”, opina Caruso.
Com mulheres famosas passando a usar cortes curtíssimos, como a atriz brasileira Deborah Secco e a cantora pop norte-americana Katy Perry, a procura pela barbearia feminina deve aumentar na próxima temporada de verão no Brasil. “É um estilo que pode ser usado por todas, em qualquer tipo de cabelo”, afirma Costa.
Para ele, ainda não podemos afirmar que existe um movimento real de barbearia feminina no Brasil. “Esse tipo de serviço ainda precisa ganhar força. Mas onde existe demanda, há um nicho de mercado, e por isso não vejo nenhum impeditivo para esse crescimento”, completa.