O grupo francês confirmou, em 30 de julho, sua perspectiva de crescimento de vendas para o ano inteiro, após registrar aumento de receita em todas as regiões do mundo no primeiro semestre, apesar da incerteza econômica global.

As vendas no primeiro semestre cresceram 7,1% globalmente, alcançando 8 bilhões de euros (US$ 9,2 bilhões), com crescimento de dois dígitos nos Estados Unidos e na Europa. Excluindo os efeitos cambiais, que impactaram negativamente a receita em 77 milhões de euros no período, o aumento teria sido de 8%.

Na Ásia (excluindo o Japão), as vendas subiram 3%, enquanto no Japão cresceram 16%. A empresa afirmou ainda que as vendas aumentaram também na China, um mercado-chave para o setor de luxo que vinha apresentando sinais de desaceleração.

“Não vejo, no momento, uma mudança fundamental no clima de vendas na China, que continua favorável para nós”, declarou o CEO Axel Dumas a jornalistas.

O lucro líquido caiu 5% no primeiro semestre, para 2,2 bilhões de euros, em razão de um imposto excepcional aplicado pelo governo francês às grandes empresas. Ainda assim, a Hermès informou que o lucro operacional recorrente subiu 6%, alcançando 3,3 bilhões de euros.

Segmento de Perfumes & Beleza sob pressão?

A divisão de Couro e Selaria, o coração do negócio do grupo, registrou crescimento de 11,3%, chegando a 3,58 bilhões de euros. O segmento de Pronto-a-vestir e Acessórios também cresceu, +4,3%, para 2,25 bilhões de euros. Já a divisão de Perfumes & Beleza caiu 4,1%, para 248 milhões de euros, e os relógios recuaram 8,9%, para 281 milhões de euros.

Após se manter estável no primeiro trimestre (-0,1%), Perfumes & Beleza registrou queda de 8% no segundo trimestre — a primeira retração desde o lançamento da linha de beleza da marca em 2020.

Embora as vendas de fragrâncias e cosméticos representem pouco mais de 3% da receita total da Hermès, a queda contrasta com o desempenho de outros grupos de luxo, como Kering e LVMH, nesse segmento.

Comentando os números, o grupo francês atribuiu o recuo ao forte efeito de base dos lançamentos de fragrâncias do ano anterior — como Hermessence Oud Alezan, Barénia e H24 Herbes Vives —, enquanto o primeiro semestre de 2025 trouxe menos estreias de impacto, com apenas Terre d’Hermès Eau de Parfum Intense e o batom Rouge Brillant Silky.

Muitos analistas questionam se o conceito de quiet luxury (luxo discreto) realmente encontra espaço no mercado de beleza. A estratégia, baseada em artesanato refinado e elegância contida, trouxe ótimos resultados para a maior parte das atividades do grupo, mas pode não ter o mesmo efeito na beleza — onde o crescimento, especialmente na Ásia, é cada vez mais impulsionado pelas redes sociais. Na China, por exemplo, parcerias com influenciadores ou celebridades, além de experiências de varejo impactantes, tornaram-se quase indispensáveis.

É claro que ninguém espera que a Hermès se associe a uma estrela do OnlyFans, como fez recentemente a Urban Decay (Grupo L’Oréal). É natural que a marca busque manter consistência com seus códigos de atenção aos detalhes, elegância e discrição em todas as frentes. Mas em um setor tão dinâmico quanto o da beleza, o cenário competitivo pode exigir mais do que lançar uma coleção de batons a cada seis meses — por mais belos e de alta qualidade que sejam. Para aumentar a pressão, a chegada da Louis Vuitton Beauté elevou ainda mais a concorrência no segmento de ultra-luxo.

Essa primeira dificuldade no segmento de beleza teve impacto mínimo no desempenho geral do grupo. Ainda assim, com tantas maisons de luxo colocando a beleza no centro de suas estratégias de crescimento, será que uma marca tão prestigiada pode se dar ao luxo de ficar para trás?