Em entrevista à AFP, Nicolas Hieronimus descreveu "um ecossistema em que o consumidor navega de um universo a outro" e no qual o comércio virtual e o comércio físico não somente coabitam, como se apoiam mutuamente. A visão de mercado do novo CEO da L’Oréal coincide com a de Malina Ngai, CEO da A.S. Watson, gigante do setor de varejo de produtos cosméticos com sede em Hong Kong.

Em breve, 50% do faturamento virá de vendas on-line

Graças ao e-commerce, o gigante francês de cosméticos conseguiu manter um nível satisfatório de atividade durante a pandemia: no ano passado, o faturamento da L’Oréal encolheu cerca de 6%, o que é pouco se considerarmos o impacto da crise sanitária.

Atualmente, as vendas pela internet respondem por praticamente 28% do faturamento e deverão atingir 50% dentro de algum tempo, prevê o dirigente, ressaltando que essa porcentagem já foi alcançada na China. Nesse cenário, as lojas físicas "precisam se reinventar para oferecer experiências ao consumidor", que continuará indo às lojas para testar novos produtos, estima Nicolas Hieronimus.

Aos 57 anos, o novo dirigente da L’Oréal assumiu as rédeas da maior companhia de cosméticos do mundo num momento em que muitos países ainda estão lutando contra a pandemia.

No entanto, a empresa conseguiu sair do vermelho no primeiro trimestre de 2021, registrando um aumento de 5% nas vendas. Uma situação bem parecida com a de outros grandes nomes dos setores de beleza e de luxo, como LVMH e Hermès, que no início do ano superaram o nível de vendas de antes da pandemia.

"A crise ainda não terminou, mas pelo menos estamos vendo a luz no fim do túnel", diz ele, citando como exemplo a Austrália, a China e os Estados Unidos. Nesses países, "as categorias de produtos mais associadas às interações sociais, como maquiagem e perfumes, voltaram a registrar um acentuado crescimento", ressalta ele. "Por isso, estamos muito confiantes".

"Ciências verdes" e beauty tech

Porém, isso não significa que a crise sanitária não tenha afetado a empresa francesa. Em primeiro lugar, houve mudanças no funcionamento. Por exemplo, os funcionários vão poder optar por trabalhar de casa duas vezes por semana, e as viagens profissionais serão menos frequentes, explica Nicolas Hieronimus.

No universo da beleza, "a preocupação com a saúde e a segurança dos produtos, que já existia antes da covid, se intensificou muito", continua ele. "O triângulo de ouro é oferecer um produto que seja eficaz, seguro e sustentável".

Seguindo essa lógica, Nicolas Hieronimus destaca os esforços empreendidos pelo Grupo em pesquisas no setor de "Ciências Verdes".

Mas, a exemplo de seu antecessor Jean-Paul Agon, o novo CEO aposta também na "beauty tech", com a mobilização de novas tecnologias a serviço dos cosméticos. O leque de possibilidades é grande e abrange desde aplicativos para smartphone que fornecem conselhos aos usuários, até a mais recente novidade do Grupo: um aparelho recarregável com o qual a consumidora pode fabricar, em casa, um batom personalizado. O produto vai em breve ser lançado nos Estados Unidos pela marca Yves Saint Laurent.

Participação de 13% no mercado mundial

Isso garante que a gigante francesa mantenha seu posicionamento como número um mundial? Segundo o dirigente, para se manter na liderança é preciso seguir apostando no continente asiático, onde a empresa está "relativamente começando" a crescer, se considerarmos que o gasto com produtos de beleza ainda é baixo e que a classe média vem se expandindo.

Além disso, o mercado americano, embora maduro e menos dinâmico, "continua sendo um motor de crescimento", completa ele. Mesmo na Europa, onde o Grupo "detém quase 20% de participação de mercado" no setor de cosméticos, ainda é possível crescer.

Em escala mundial, "a L’Oréal responde por 13% de participação de mercado", revela Nicolas Hieronimus. "Restam, portanto, 87%". E "a L’Oréal não pretende ficar de braços cruzados".