Os números da indústria brasileira de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC) ficaram aquém do esperado em 2022. O setor registrou crescimento de 13,2% em valor de vendas ex-factory (sem descontar a inflação), mas o número aparentemente favorável não passa de uma falsa sensação positiva, segundo João Carlos Basilio, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).

“Esse resultado está diretamente relacionado ao movimento de recomposição das margens de preços que o setor precisou implementar durante 2022, depois de dois anos pandêmicos, quando muitos esforços foram feitos para evitar o aumento de preços diante do cenário de dificuldades”, ele cita. E se a economia já estava em crise por conta da Covid-19, se agravou com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que afetou ainda mais a cadeia global de suprimentos e combustíveis, gerando nova alta de preços no país ao longo do ano.

Consumo conservador registrado em 2022

“Tínhamos uma expectativa de que em 2022 se iniciaria uma reaceleração do consumo. Mas o que observamos foi um ritmo mais conservador de retomada”, diz Basilio. De acordo com a entidade, muitos consumidores migraram entre marcas, procurando promoções e preços mais baratos, além de embalagens “tamanho família”, com valores mais competitivos.

“Isso aconteceu em decorrência da inflação muito alta, especialmente dentro do nosso setor, que teve que absorver índices muito elevados. Mas isso já é passado. Nós estamos superando esses obstáculos e olhando para frente. Conseguimos nesses últimos anos repassar paulatinamente os aumentos dos insumos e matérias-primas e agora estamos vivendo uma fase de normalidade, com o brasileiro voltando a consumir cada vez mais produtos do nosso setor”.

Mas para a indústria de cosméticos sair da estagnação e voltar a crescer, o presidente-executivo da entidade é categórico. “Nós precisamos fazer com que as contas públicas fiquem sob controle e que a reforma tributária avance nesse novo governo.”

Ele chama a atenção para a complexidade da questão tributária nacional, dizendo que o Brasil pode ser visto como “27 países com tributações diferentes”, define. “É fundamental que a sociedade brasileira se mobilize por uma reforma tributária que ajude a simplificar os processos, eliminar os entraves nas negociações internas e reduzir os impostos”.

HPPC está entre os três setores mais tributados no Brasil

Basilio lembra que o setor de HPPC está entre os três mais tributados no país, atrás apenas das indústrias de tabaco e telecomunicações, o que chama de injustiça. “Somos um segmento de total importância para o país e a sociedade. Apesar das dificuldades enfrentadas em 2022, geramos R$ 169 bilhões de vendas no varejo e oportunidades de trabalho a mais de 5,6 milhões de pessoas. Os números falam por si”.

Ele se diz confiante com a possibilidade de que o governo avance nesses dois quesitos ainda em 2023. “O controle das contas públicas e a reforma tributária são fundamentais para termos um ano positivo e aí não será só 2023, nós podemos esperar os próximos dez anos com muita possiblidade de crescimento e desenvolvimento no setor de HPPC”.

Ele se diz bastante otimista. “Os resultados do primeiro trimestre deste ano sinalizam positivamente, mostrando uma recuperação. Em alguns casos, os números estão surpreendentes. Eu acho que nossa indústria vive um momento bom e nós vamos superar a expectativa”.