Mais de 50% das mulheres brasileiras se declaram pretas ou pardas. Mesmo sendo maioria, elas ainda não se sentem representadas pela indústria da beleza no país. “Até alguns anos atrás, eu tinha dificuldade de encontrar maquiagem para o meu tom de pele. Uma vez fui maquiada para um evento e usaram uma base bem mais clara. Fiquei parecendo os personagens do filme ‘As Branquelas’”, relata a cantora Tinna Rios, influenciadora no segmento de cultura preta. “Hoje em dia é mais comum. Eu consigo até escolher a marca que quero comprar”.
Para ela, essa mudança recente no setor de cosméticos tem explicação. “A negritude tem mais autoestima hoje em dia. As marcas, percebendo esse empoderamento, entenderam a necessidade de apoiarem a diversidade e favorecerem todos os tons de pele”, diz Rios.
Diretora de marketing da categoria Colors da Avon, Juliana Barros admite: “O mercado negro já foi negligenciado pela indústria de beleza, mas as empresas vêm buscando ampliar a oferta de cores de pele com produtos em tons mais democráticos”.
No final de 2020, o Centro Global de Inovação da Avon, em colaboração com a maquiadora negra Daniele Da Mata, reformulou o portfólio de maquiagem da marca para trazer mais tonalidades para a pele preta e parda. “Entendemos que a beleza brasileira é a beleza da mulher negra e que é dever da indústria atender a essa demanda. Maquiagem para o público negro não é apenas um nicho”, afirma Barros. Lançada neste ano, a Base Sérum foi apresentada em 15 tonalidades, entre claro, médio claro, médio, médio escuro e escuro e subtons quentes, neutros e frios.
Outra marca que fez alterações no catálogo de bases foi a Dailus, com o relançamento da coleção Ultra, com doze tons divididos igualmente entre claros, médios e escuros. “O processo da reformulação da Base Ultra foi resultado de uma conduta humanizada para lidarmos com um problema estrutural: o padrão de beleza não é democrático e não inclui diferentes tonalidades, principalmente as mais retintas”, afirma a gerente de marketing Julia Ribeiro.
Para ela, as marcas ainda precisam estudar e crescer bastante nesse segmento. “Queremos ter certeza de que estamos cobrindo o maior número possível de pessoas com nossas cores e fórmulas e conseguimos notar que a conexão da consumidora com a marca foi sensacional”, diz Ribeiro.
Os fabricantes de protetores solares também têm dedicado mais atenção aos consumidores pretos. A Garnier Skin Active convidou a cantora Iza para desenvolver uma tonalidade específica para a pele negra no novo Protetor Hidratante com Cor Tudo em 1 FPS 50 da linha Uniform&Matte, criada especialmente para a pele das brasileiras.
“Eu não me sentei diante de uma mesa e escolhi uma cor entre tantas outras, eu participei de cada etapa de desenvolvimento dessa tonalidade até chegarmos no resultado final, que me atende perfeitamente”, declara Iza.
A diversidade também é ponto importante para a Adcos, marca de dermocosméticos com o maior catálogo de proteção solar no Brasil. “Contamos com uma ampla variedade de cores em diferentes texturas e apresentações e tivemos um papel de pioneirismo ao oferecer esta gama antes de outras marcas”, afirma o gerente de produto Leandro Menezes. Ele lembra que os principais players de dermocosméticos são multinacionais, com portfólios desenvolvidos para um público que não tem uma população negra tão representativa como no Brasil. “Por ser brasileira, a Adcos busca oferecer produtos adequados a estes consumidores”.
Nem todos os filtros com cor da marca têm tonalidades para a pele preta. “Optamos por oferecer a gama mais completa de cores nos fotoprotetores de cobertura mais alta”. Ele dá como exemplo o Stick FPS 80, que ganhou recentemente mais um tom. “De acordo com a aceitação deste produto no mercado, pretendemos expandir e aperfeiçoar nossas opções para o público negro”, revela Menezes.