A tecnologia SymTrap tem cumprido suas promessas. Depois de possibilitar a obtenção da primeira nota de maracujá natural, ela permitiu a extração de fragrâncias novas e originais. Fruto da sinergia entre as divisões de aromas alimentícios e de “fine fragrances” da Symrise, a tecnologia não polui o meio ambiente, pois baseia-se no reaproveitamento (upcycling) de subprodutos da indústria de alimentos.
Para desenvolver as novas criações, a Symrise selecionou legumes de culturas orgânicas da França, Alemanha e Bélgica. As hortaliças foram processadas pela fábrica Dianafood, sediada na região francesa da Bretanha e recentemente adquirida pelo Grupo. Os legumes são triturados ou cortados e em seguida aquecidos para serem usados como ingredientes alimentícios. Com a tecnologia SymTrap, é possível capturar as moléculas odoríferas no vapor e na água residual, comprimir essas moléculas e extrair a água para injetar álcool. Altamente concentrado, o alcoolato de legume é um ingrediente "limpo" por resultar de um processo de reciclagem de resíduos que não requer calor nem o uso de substâncias químicas.
Um novo universo de possibilidades
Graças a essa tecnologia, a Symrise desenvolveu ingredientes SymTrap a partir de vários legumes tradicionais - aspargo, alcachofra, cebola, alho-poró e couve-flor - que oferecem aos perfumistas um novo universo de possibilidades. Dignos de figurar na lista de ingredientes dos mais talentosos perfumistas, os novos insumos oferecem um efeito olfativo extremamente próximo ao odor natural dos legumes e permitem texturizar certas composições ou realçar algumas facetas de ingredientes mais clássicos. "Como perfumistas, trabalhamos com uma paleta evolutiva e estamos sempre em busca de novidades, sem ideias preconcebidas sobre os odores. Dispor de cinco novos materiais na paleta é um acontecimento que merece ser comemorado", explica Alexandra Carlin, perfumista da Symrise.
Para ilustrar o potencial criativo dos cinco novos ingredientes, os perfumistas da empresa definiram sua apresentação e os incorporaram em composições originais. Alexandra Carlin, por exemplo usou a alcachofra dos Pirineus para criar um fougère que sublima as notas tenras de vegetais, feno e cumarina presentes nesse legume.
Aliénor Massenet, por sua vez, escolheu trabalhar com uma variedade de aspargo branco da Alemanha, acentuando as facetas verdes e crocantes em um acorde de lírio-do-vale. A exemplo do gálbano, o aspargo acentua as nuances herbáceas da flor, apresentando facetas iridescentes, atalcadas e de cereal.
Já Leslie Gautier decidiu brincar com as tonalidades do alho-poró para realçar as facetas salinas e minerais do âmbar-cinzento. A fórmula, um tanto densa, traz o caráter verde ligeiramente "folha de violeta" que caracteriza esse legume.
Outra boa surpresa é a couve-flor, cuja textura cremosa e notas de grãos torrados foram harmonizadas por Aliénor Massenet em uma fragrância gourmande, protagonizada por vanilina, pirazina e etilmaltol, com o aroma pipoca como figurante. A textura proporcionada por esse novo ingrediente é um aspecto muito interessante para os perfumistas.
Para concluir a série, Alexandra Carlin subverteu as notas sulfuradas da cebola para criar uma fragrância especiada e amadeirada. A perfumista valorizou a nota de pele sensual desse legume, mesclando-a com as notas cremosas e leitosas do sândalo para realçar o caráter ligeiramente "safado" do perfume.
Essa pequena revolução, que abre caminho para novos horizontes olfativos, promete dar muito o que falar: a Symrise trabalha atualmente com outros ingredientes comestíveis, como a cenoura (na França) e o caju (no Brasil).
Resta saber se as marcas indicarão a presença desses novos ingredientes nos rótulos de seus perfumes ou se a nova paleta será utilizada como mero recurso para obter efeitos de textura ou novas nuances, sem que os ingredientes sejam explicitamente mencionados na composição. Uma coisa é certa: o crescente interesse do mercado por produtos naturais, orgânicos e sustentáveis contribuirá para o sucesso dessa inovação.