Com a disseminação do novo coronavírus pelo Brasil, a procura por álcool em gel 70% cresceu rapidamente e bastaram alguns dias para o produto desaparecer das prateleiras em todo o país. Por meio de manifestações da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou no início de março uma resolução que coloca o álcool em gel em regime de notificação, liberando a inserção do produto no mercado sem autorização prévia da agência.
“Isso não mudou as exigências e os procedimentos, mas deu uma celeridade significativa aos processos. As empresas ganharam, no mínimo, 180 dias de antecipação para lançar o álcool em gel”, afirma João Carlos Basilio, presidente-executivo da ABIHPEC.
Com a resolução da Anvisa, muitas empresas de cosméticos que não tinham o produto em seu portfólio passaram a fabricá-lo. Além de aumentar a oferta ao consumidor, a estratégia também tem sido empregada como forma de reduzir as perdas econômicas decorrentes das medidas de isolamento social.
A Koloss Make up é um exemplo. “Somos uma empresa focada em maquiagem. Com fechamento dos shoppings e lojas especializadas do segmento, o impacto nas vendas foi muito grande. Sentimos a necessidade de produzir o álcool em gel para continuarmos com nossa produção”, afirma o diretor Alexandre de Oliveira.
O mesmo ocorreu com a Cless Cosméticos. “No início da pandemia identificamos essa possibilidade para preservar os empregos e parceiros e diminuir o rombo no faturamento. Fabricar o produto foi uma decisão saudável e responsável da empresa”, diz Katia Coutinho, diretora de marketing.
Diferente dos álcoois em gel que já existiam no mercado, muitos desses produtos lançados por marcas de cosméticos também se atentam para o cuidado com a pele. “Sabemos que o uso excessivo de álcool em gel tem deixado muitas mãos ressecadas, irritadas e até rachadas. Ele remove parte dos lipídeos da nossa pele, causando desidratação e acabando com a defesa a agressores externos”, explica Luisa Saldanha, farmacêutica e diretora científica da Pharmapele.
A companhia, que teve queda de até 30% nas vendas de seus dermocosméticos de tratamento, está fabricando um álcool em gel com aloe vera e glicerina, ingredientes que, segundo Saldanha, conferem hidratação, nutrição e maciez à pele, além de aliviar possíveis irritações.
Dedicada a cosméticos naturais e veganos, a Unevie lançou um gel de lavanda e melaleuca com álcool 70% para a higienização das mãos. A marca também modificou a fórmula de um produto que já comercializava, a água de lavanda em spray, elevando seu nível de álcool. Com óleos essenciais na composição, ambos prometem não ressecar a pele.
“Os dois itens seguem a filosofia da empresa – natural, vegetal e saudável – e acabam por nos diferenciar no mercado por suas características que vão além da assepsia”, diz a fundadora Andreia Munhoz. Ela revela que com eles a expectativa é atingir um público maior do que os que já compram da marca e que, mesmo após o fim da pandemia, manterá os produtos no catálogo.
Com seu novo álcool em gel com aloe vera, a Koloss também espera ampliar seus consumidores. “Conseguimos entrar em novos nichos de mercado, como supermercados, drogarias e farmácias, e assim podemos alcançar um número maior de pessoas”, afirma Oliveira. O executivo também garante a continuidade do produto no pós-crise. “Entendemos que o conceito de higienização vai permanecer na sociedade”, finaliza.