De acordo com dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2021 da Abrelpe (Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública), cada brasileiro gera em média 1,07 kg de lixo por dia. Isso resulta em mais de 82 milhões de toneladas de resíduos ao ano no país, sendo que apenas 60% têm destinação correta. Para reduzir a quantidade de lixo produzido e o impacto no meio ambiente, a indústria brasileira de cosméticos tem investido em soluções para embalagens mais sustentáveis.

Em parceria com a Suzano, especialista em bioprodutos derivados do cultivo de eucalipto, o Grupo Boticário desenvolveu uma embalagem livre de plásticos para flaconetes de 1 ml para perfumaria. “Temos um volume médio anual de 30 milhões de amostras de flaconetes. Com essa nova tecnologia, vamos substituir os filmes usados atualmente pelo Greenpack, um papel criado pela Suzano especificamente para embalagens flexíveis e produzido a partir de matéria-prima de fonte renovável, biodegradável e reciclável. Assim, evitamos o descarte de 21,2 toneladas de plástico”, afirma Gustavo Dieamant, diretor de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Boticário.

Após oito meses de estudos, a embalagem foi usada no ano passado em um projeto piloto com as amostras de perfumaria de Velvet Exclusive, da marca Eudora. “Tivemos aprendizados importantes para garantir a execução de alto volume dentro da nova proposta de material, percepção de nossos representantes, além de termos tido resultados e percepções consistentes para recomendação de uso da tecnologia para toda a cadeia da empresa”, diz o executivo.

Outra aposta do Grupo Boticário apresentada recentemente foi a primeira embalagem cosmética do país feita de fibras de celulose. Chamada de Pulppack, ela reduz o uso de polímeros PET em até 50% e está em testes com frascos de 400 ml de Nativa Spa, da marca O Boticário. “Com o Pulppack, o objetivo é continuar produzindo embalagens cada vez mais sustentáveis e facilitando o processo de reciclagem, por conta de sua fácil desmontagem e separação. Estimamos que os primeiros protótipos sejam lançados no mercado em 2023”, declara Dieamant.

Uma solução simples, mas de impacto, foi pensada pela Noviole. Com o lema de “mais produto, menos lixo”, a marca de clean beauty adotou o uso do “rótulo-bula”, que permite a inserção das informações sobre composição, modo de uso, precauções e validade diretamente na embalagem primária do produto, dispensando as bulas tradicionais e mesmo as embalagens secundárias.

“Essas apresentações de rótulos já são usadas em produtos de limpeza, mas ainda pouco exploradas pelos cosméticos”, afirma Daniele Balbi, médica dermatologista e fundadora da Noviole. “Podemos prever que a cada produto Noviole colocado no mercado, deixamos de utilizar ao menos uma caixa secundária e um folheto-bula, reduzindo assim cerca de 60% de papel em relação a um produto convencional”, ela acrescenta.

Para lançar a linha Poder das Plantas, com foco em ingredientes naturais, a Dove também desenvolveu embalagens mais sustentáveis. “Dove Poder das Plantas já nasce com frascos em 100% de plástico reciclável e reciclado. Em 2021, todas as marcas Unilever renovaram os votos de um mundo mais sustentável e Dove fez um compromisso adicional de que suas embalagens seriam 100% de plástico reciclado até 2025. Compartilho em primeira mão que, já em abril de 2022, todos os frascos de xampu, condicionador, tratamento e creme de pentear da marca já alcançam esse feito”, declara o gerente de marketing Vinícius Menezes.

Outra empresa que já chegou ao mercado preocupada com as embalagens de seus produtos é a Physalis. Lançada em 2020 e vencedora do prêmio Grandes Cases de Embalagem 2021, a Physalis tem todos seus frascos de xampu, condicionador, desodorante e sabonete líquido produzidos com 100% de resina reciclada. As embalagens dos sabonetes em barra são de papel cartão totalmente reciclado e as bisnagas de géis dentais, de polietileno derivado da cana de açúcar. “O planeta está pedindo socorro e nós, da indústria, somos parte desse movimento”, diz Luciana Amiralian, diretora de P&D da Phisalia, detentora da marca.