Por que a Lush decidiu se retirar das redes sociais em 48 países?

Chloé Chazot - A decisão é fruto de uma longa reflexão sobre a natureza dessas plataformas e sobre os efeitos negativos que elas têm nos seguidores. Em abril de 2019, já tínhamos decidido parar de postar em algumas redes sociais do Reino Unido. Com a crise da Covid-19, quase todos os países adotaram o isolamento ou o toque de recolher. Diante dessas circunstâncias especiais, decidimos reativar nossas contas nas plataformas das quais tínhamos nos retirado, a fim de oferecer ao público o máximo possível de opções, num momento em que, de repente, as opções tinham praticamente desaparecido. Agora, chegamos à conclusão de que não queremos mais esperar que os outros se conscientizem sobre o problema, por isso decidimos mudar nosso próprio comportamento, buscando soluções aplicáveis de imediato. Sempre cultivamos relações autênticas e sinceras com nossa comunidade de seguidores. E a Lush sempre fez questão de oferecer um espaço seguro para todas e todos. É justamente por desejarmos interagir com essa comunidade de maneira direta e segura que tomamos a decisão de desativar nossas páginas nas plataformas que, para nós, são problemáticas e não correspondem aos princípios éticos da Lush.

A decisão é temporária ou definitiva?

Chloé Chazot - Isso vai depender das medidas que essas plataformas vão tomar. Acreditamos que as coisas precisam mudar desde agora e esperamos que as redes sociais comecem gradualmente a adotar práticas adequadas que garantam proteção aos usuários. Para nós, é essencial que sejam implementadas leis internacionais para que essas boas práticas sejam aplicadas. Porém, não vamos simplesmente ficar esperando que isso um dia aconteça. É nosso dever agir para proteger nossa comunidade contra os riscos e a manipulação a que os usuários estão expostos quando nos procuram nas redes sociais.

Concretamente, que medidas precisam ser tomadas pelas redes sociais?

Chloé Chazot - Nossa função não é propor soluções, pois essa responsabilidade incumbe às plataformas – que, aliás, já têm essas soluções em mãos, mas optam, deliberadamente, por não aplicar.

Que elemento funcionou como gatilho para essa decisão?

Chloé Chazot - O que motivou nossa decisão e fortaleceu nossa determinação foram os corajosos alertas recentemente lançados sobre o perigo que as redes sociais representam para os jovens. A Lush sempre foi uma empresa militante. Por meio de campanhas de mobilização e de nosso posicionamento público, defendemos no dia a dia a proteção dos animais, a preservação do meio ambiente e os direitos humanos. É por isso que não podíamos fechar os olhos diante dessa situação extremamente grave.

A Lush decidiu desativar as páginas no dia 26 de novembro, justamente na Black Friday. Por que escolheram essa data?

Chloé Chazot - Para nós, a Black Friday sempre foi uma época do ano em que reforçamos nossos compromissos e nossos valores éticos junto ao público. Em 2017, por exemplo, lançamos a campanha #SOSsumatra para dar apoio à associação Sumatran Orangutan Society, cuja missão é proteger os orangotangos e a floresta tropical de Sumatra. Na época, arrecadamos cerca de 142 mil euros. Portanto, a Black Friday é uma data simbólica, que a empresa sempre aproveita para reforçar o diálogo com a comunidade.

Por que a Lush decidiu manter suas contas no YouTube e sobretudo no Twitter, que também vem sendo alvo de muitas críticas?

Chloé Chazot - Nossa posição é nos retirarmos das plataformas que deliberadamente ignoram suas próprias provas, mas retornaremos se elas se transformarem em espaços seguros. Quanto às outras plataformas, vamos usar o YouTube como um canal para divulgar as atualidades, as campanhas éticas e os valores da Lush, sem que os usuários precisem se inscrever nem curtir as publicações para poderem dialogar conosco. Em relação ao Twitter, essa rede social já tinha sido reservada à equipe Customer Care, e isso não vai mudar.

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram indispensáveis à comunicação das marcas. Essa decisão não vai acabar prejudicando a Lush?

Chloé Chazot - Nossa notoriedade foi construída com base em nossos combates e em nossos valores, que foram o ponto de partida para formar uma comunidade fiel em torno da marca. A Lush nunca fez propaganda, nem nas redes sociais nem em qualquer outro canal. Aliás, as redes sociais nunca foram um canal exclusivo. Sempre mobilizamos recursos únicos para nos comunicarmos diretamente com as pessoas que nos acompanham, por exemplo por meio das campanhas de conscientização que promovemos em nossas lojas ou nas revistas Lush Times. Continuaremos também a trabalhar com influenciadores, cultivando relações sadias e serenas.

Na sua opinião, as redes sociais têm exercido um poder cada vez maior sobre as marcas nos últimos anos?

Chloé Chazot - A Lush sempre ocupou um espaço de ruptura no mercado. Somos pioneiros da revolução de cosméticos, tanto em razão das inovações que lançamos como pelos compromissos assumidos desde que a empresa foi criada. Nossa missão é fazer a diferença, estabelecer normas inéditas e abrir novos caminhos, como fizemos 30 anos atrás, quando idealizamos o primeiro shampoo sólido do mercado.

E se nada mudar... Qual será a próxima etapa?

Chloé Chazot - Bem, se nada acontecer apesar de nossos esforços para promover uma maior conscientização global, nossa posição permanecerá a mesma.