Mais de 70% da superfície da Terra é composta por água. No entanto, apenas cerca de 3% deste volume é considerado potável e próprio para o consumo humano. Tão importante para a vida no planeta, a água também se faz necessária na cadeia produtiva de cosméticos e poupá-la é um dos maiores desafios enfrentados pela indústria de cuidados pessoais atualmente.

Paulo Kazaks, CEO da Sweet Hair

De acordo com a Mintel, produtos formulados sem água são uma das principais tendências de beleza que impactarão o mercado global até o ano 2025. No Brasil, empresas de especialidades químicas e ingredientes cosméticos começam a apresentar ao mercado soluções sustentáveis inovadoras alinhadas a esse movimento.

Um xampu em barra para os cabelos, que também pode ser usado como sabonete ou espuma para barbear, é uma das fórmulas sem água desenvolvidas pela Chemyunion. “Buscamos inspirar os departamentos de marketing e P&D de nossos clientes com novas possibilidades de criação”, afirma Leandra Moraes, gerente de marketing da companhia brasileira. “O consumidor busca embalagens recicláveis, clean label e existe um crescente interesse na conservação de água”, acrescenta.

A Beraca, maior fornecedora de ingredientes da biodiversidade do país para a indústria de cosméticos, também investe na tendência. Entre as aplicações sem água de seu portfólio estão condicionadores em gel, máscara facial granulada e uma seleção de leave-in sólidos elaborados com ativos como óleos de pequi e de patauá. “O consumidor pode levar um pedacinho do produto em sua bolsa e acrescentar a água no momento em que quiser utilizar”, diz Marianna Cyrillo, gerente de comunicação e marketing da empresa.

Ela chama a atenção para o fato de que em alguns produtos de higiene pessoal a água pode chegar a 90% nas composições. “Se já usamos a água no chuveiro, faz sentido adotar um xampu em pó. Ele se misturará à própria água do banho, economizando na formulação”, exemplifica Cyrillo.

A marca brasileira de cuidados profissionais com o cabelo Sweet Hair lançou um xampu em pó pioneiro para uso em salões, hoje distribuído para 70 países. “A produção dele é 100% sem água. Isso gera uma economia média de sete litros de água a cada 400 gramas de xampu”, diz o CEO Paulo Kazaks.

Além de poupar o recurso natural esgotável, cosméticos livres de água também trazem outros impactos sustentáveis. “Formulações sem água permitem economias de armazenagem, redução da quantidade de material utilizado na produção de embalagem e redução do volume de produto por embalagem, o que aumenta o número itens armazenados ou expostos por área de prateleira ou gôndola”, cita Moraes. Ela ressalta que este tipo de produto ainda é explorado por marcas menores e independentes, mas acredita no futuro do segmento. “Trata-se de uma mudança de hábito, aceitação e conscientização”, aponta.

Segundo a gerente da Beraca, os cosméticos formulados sem água crescem vertiginosamente no mundo. Ela cita como cases de sucesso a PWDR, uma indie brand que só trabalha com produtos em pó, e a DS3, marca incubada pela multinacional Procter & Gamble, cujo slogan é ‘Liquid Free Products’, ou seja, produtos sem líquidos. “Os consumidores brasileiros estão cada vez mais atentos à sustentabilidade que envolve seus produtos cosméticos e é uma questão de tempo para essa demanda chegar ao mercado nacional”, finaliza Cyrillo.