Ben Crump, advogado especializado em direito civil e crimes de lesão corporal, e Diandra Debrosse Zimmermann, jurista na área de responsabilidade delitual, entraram com uma ação judicial em nome de Jenny Mitchell, cidadã americana de 32 anos residente em Missouri, que, segundo o texto da petição, desenvolveu um câncer de útero causado "direta e indiretamente pelo fato de ter sido exposta, de maneira regular e prolongada, a ftalatos e outros disruptores endócrinos" presentes nos produtos para alisar o cabelo comercializados pela L’Oréal USA, responsável pela fabricação dos produtos Dark & Lovely, e por outras empresas, como Namaste Laboratories, Godrej Consumer Products e Dabur International.

Como explica a queixa registrada pelos advogados, Jenny Mitchell foi submetida a uma histerectomia total no Boone Hospital Center, no estado de Missouri, em 24 de setembro de 2018, aos 28 anos, após um diagnóstico de câncer do útero. Desde então, recebeu acompanhamento em consultas trimestrais durante dois anos e ainda hoje é obrigada a realizar exames de controle a cada seis meses.

Durante uma coletiva de imprensa, Jenny Mitchell explicou ter começado a usar alisantes químicos mais ou menos em 2000, quando tinha uns oito anos, "como ocorre com a maioria das meninas afro-americanas", e ter continuado a usar esse tipo de produto até março de 2022. Afirmou também não ter histórico familiar de câncer de útero nem de qualquer outro tipo de câncer.

A queixa tem como pano de fundo um artigo publicado na semana passada no Journal of the National Cancer Institute. O estudo constatou que, em mulheres que usam regularmente produtos químicos para alisar o cabelo, o risco de desenvolver câncer de útero antes dos 70 anos era de 4%, enquanto que, no caso de mulheres que não tivessem usado nenhum alisante químico nos 12 meses anteriores à pesquisa, esse risco era de 1,6%. Realizado pelo National Institute of Environmental Health Sciences, o estudo teve a participação de 33.497 mulheres americanas com idade entre 35 e 74 anos e se estendeu por um período de aproximadamente 11 anos.

"Há muito tempo as mulheres negras são vítimas de produtos nocivos especificamente destinados a elas", declarou Ben Crump em um comunicado. "O cabelo do negro é belo, mas desde sempre as mulheres negras ouvem que precisam usar alisantes para se encaixarem em padrões socialmente aceitáveis. Vamos provavelmente descobrir que a trágica história da sra. Jenny Mitchell é mais um dos inúmeros casos em que certas empresas sem escrúpulos enganam as mulheres negras a fim de aumentar seus próprios lucros".

"O fato de essas empresas, movidas por razões comerciais, terem direcionado os produtos especificamente para mulheres negras e latinas, sem levar em conta o grave risco que esses alisantes representam para a saúde delas, constitui uma falta que deve ser corrigida", afirmou Diandra Debrosse Zimmermann. "Ao dar início a esse importante combate jurídico, nosso objetivo é exigir e obter justiça para essas mulheres e suas famílias".

Paralelamente, Kimberly Norman, Senior Director, Safety and Regulatory Toxicology do PCPC (Personal Care Products Council), sindicato profissional dos fabricantes de produtos cosméticos nos Estados Unidos, declarou que o estudo realizado pelo National Institute of Environmental Health Sciences não evidenciou nenhuma relação de causalidade que associe o câncer de útero a ingredientes específicos presentes nos produtos capilares ou a qualquer outro produto químico em particular.

Em sua petição, a sra. Jenny Mitchell solicita uma indenização de no mínimo 75 mil dólares.