No final de 2012, a Natura, líder de venda direta no Brasil, anunciou a compra de parte da grife australiana de cosméticos Aesop. Fundada em Melbourne, em 1987, a companhia se tornou conhecida não apenas por seus linhas de cuidados para pele e cabelo voltadas ao mercado premium, mas também por suas embalagens minimalistas de vidro âmbar e suas lojas-conceito. Cada uma tem um projeto arquitetônico exclusivo, onde os clientes podem testar os produtos, alguns dispostos até do lado de fora da vitrine.
Passados quase quatro anos da aquisição, as empresas continuam operando de maneira independente e a Aesop segue produzindo seus cosméticos na Austrália. O que mudou – e muito – neste período foi o posicionamento da marca pelo mundo. Hoje, ela está presente em 20 países da Ásia, Europa, América e Oceania, com quase 170 lojas. É praticamente o dobro do que a rede dispunha em 2013 (80 unidades distribuídas em 10 países). “Estamos crescendo, mas de forma saudável”, diz Stuart Millar, gerente geral e presidente da Aesop para as Américas.
No Brasil são duas lojas, ambas instaladas na cidade de São Paulo. A primeira, inaugurada em junho de 2015, nos Jardins, é assinada pelo arquiteto modernista Paulo Mendes da Rocha, autor do projeto do Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) e da reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A nova unidade abriu as portas ao público no mês de outubro. Instalada no bairro da Vila Madalena, foi idealizada pelos irmãos Fernando e Humberto Campana, designers conhecidos e premiados internacionalmente.
“Com nossa primeira loja, tivemos um faturamento 40% acima do esperado e acredito que a Vila Madalena seja um bairro alinhado com a marca e que terá um resultado igualmente bom”, afirma Millar. Segundo o diretor da Aesop, o controle assumido pela Natura foi essencial para a varejista australiana se estabelecer no Brasil. “Não teríamos entrado nesse mercado de forma tão fluída sem a Natura”, assegura. Uma terceira loja no país é planejada dentro de um período de 18 meses, ainda sem local definido.
Elaboradas a partir de ingredientes naturais e desenvolvidos em laboratórios, sem silicones ou parabenos, as formulações da Aesop não são testadas em animais, assim como as da Natura. Seus preços são mais elevados do que os da multinacional brasileira. Um creme hidratante para as mãos e cutícula custa R$ 123, os xampus partem de R$ 139 e o óleo de limpeza facial à base de semente de salsa sai por salgados R$ 275. Para Milllar, a Natura não comprou a Aesop apenas por ser uma empresa que divide muito de seus valores, mas também porque permite que ela se diversifique e atinja um público que ainda não fazia parte de sua clientela.
A Aesop vem ganhando destaque nos rendimentos da Natura. Atualmente, a empresa responde por uma fatia de 6% no faturamento total do grupo brasileiro, que registrou quase R$ 8 bilhões de receita líquida no ano passado. Em 2017, a expansão internacional da grife australiana continua. “Não temos um valor estimado, mas estamos sempre estamos procurando a oportunidade certa e acreditamos que existe muito potencial neste mercado”, revela Millar.
Questionado se a Aesop poderia passar a produzir seus artigos de beleza e higiene pessoal no Brasil, utilizando ingredientes nativos – trabalho em que a Natura empenha grandes esforços –, o diretor da marca afirma: “não temos planos, gostamos de ter o controle de nossa produção na Austrália, mas ‘nunca diga nunca’. Ninguém sabe o quão grande o mercado se tornará”.