Ulisses Sabará, presidente da Beraca,

Brazil Beauty News - Embora muitas empresas atuem no fornecimento de ingredientes da biodiversidade brasileira, poucas ganharam a credibilidade da Beraca no mercado. Quais são os principais diferenciais da empresa?

Ulisses Sabará - Antes de mais nada, é preciso ter convicção no modelo de negócio escolhido. A Beraca é pioneira no desenvolvimento de insumos da biodiversidade brasileira, atuando na indústria cosmética desde 1991. Nós estamos comprometidos com a rastreabilidade de 100% das matérias-primas que oferecemos ao mercado, garantindo aos fabricantes acesso a todas as etapas da cadeia produtiva. Nossas parcerias com grupos locais em diversos estados do Brasil reafirmam o respeito ao meio ambiente e às populações locais, através da manutenção do seu estilo de vida e da cocriação de tecnologias.

Brazil Beauty News - Como as matérias-primas naturais e sustentáveis ajudam a agregar valor ao produto final e influenciar na decisão de compra do consumidor?

Ulisses Sabará - O consumidor está cada vez mais preocupado com o impacto de suas ações e opções de compra, mas os fabricantes também desempenham um papel fundamental em sua educação e conscientização. A Beraca atua de forma sinérgica entre as pontas da cadeia produtiva, agindo como ponte e unindo estrategicamente fornecedores locais e empresas globais interessadas em oferecer produtos fabricados através de insumos naturais, com eficácia comprovada e certificação orgânica.

Brazil Beauty News - Em 2000, a Beraca lançou um programa de desenvolvimento socioambiental que hoje atua em parceria com mais de 100 comunidades em regiões rurais do Brasil. Como o projeto vem contribuindo para a construção de um novo panorama social no país?

Ulisses Sabará - O Programa de Valorização da Sociobiodiversidade trabalha em prol de uma grande missão: garantir o fornecimento sustentável de matérias-primas naturais para a indústria de cosméticos mundial, preservando o meio ambiente e fomentando a inclusão social. Atualmente, a iniciativa beneficia mais de 1.600 famílias em 101 núcleos comunitários nos estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão, Piauí e Minas Gerais. Por meio de treinamento e capacitação, a Beraca apresenta oportunidades de incremento de renda para essas famílias por meio da coleta de frutos e sementes que antes eram desperdiçados. Após a inserção no programa, notamos também uma diminuição do êxodo rural entre os participantes. Ele ajuda a restaurar a dignidade e a expectativa de um futuro melhor entre as comunidades envolvidas.

Brazil Beauty News - Muitas das empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento de espécies nativas do Brasil enfrentam entraves por parte do governo brasileiro relacionados ao acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional. O Brasil não está preparado para empresas comprometidas com a sustentabilidade ou esses obstáculos são positivos para que apenas os projetos consistentes continuem existindo?

Ulisses Sabará - Creio que as duas coisas. A sustentabilidade é um conceito em desenvolvimento e sua aplicação prática está cada vez mais difundida. No entanto, a proposta da Beraca é muito nova e, apesar de todo o reconhecimento internacional que conquistou, ela ainda não está regulamentada a contento pelas autoridades brasileiras. Mas há mudanças a caminho. Nesse processo, a resiliência do pioneirismo é que conta e, teimosamente, continuamos apresentando uma alternativa consistente de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável para as comunidades. É uma cadeia em que todos ganham.

Brazil Beauty News - O conceito de sustentabilidade corporativa está deixando de ser uma virtude e passando a ser uma obrigação. É correto afirmar que no futuro apenas as empresas que atuam nesse sentido sobreviverão?

Ulisses Sabará - Certamente que sim. O modelo econômico atual está dando claros sinais de fadiga. Aqueles que exercem papéis de liderança no Brasil e no mundo deveriam perceber que o caminho para o envolvimento na preservação e no desenvolvimento socioambiental é irreversível, necessário e inteligente, mas custoso. Sempre há os que fingem ser o que não são; o termo “greenwashing” não foi criado à toa. Mas há também os que realmente optam por “walk the talk” e creio que esses prevalecerão. Ressalto que caminhar nessa direção implica em mudanças de paradigmas e em uma nova cosmovisão. A verdadeira sustentabilidade está centrada na satisfação das necessidades, e não dos desejos. A adoção desse conceito fará toda a diferença para o consumidor e para as empresas comprometidas social e ambientalmente.