As negociações para um tratado mundial histórico contra a poluição plástica fracassaram. Representantes de 185 países trabalharam além do prazo final de quinta-feira e durante toda a noite, em vão, na tentativa de encontrar um terreno comum.

O processo opõe dois lados: um grande bloco de países que deseja medidas ambiciosas, como reduzir a produção de plástico, e outro menor com países produtores de petróleo que pretende se concentrar mais especificamente na gestão de resíduos.

O presidente das negociações, o embaixador equatoriano Luis Vayas Valdivieso, havia apresentado duas versões diferentes de rascunho em 24 horas, a última delas na madrugada de 14 para 15 de agosto, em um cenário de caos e expectativa. Os chefes das delegações, reunidos em uma sessão extraordinária durante a manhã, não conseguiram chegar a um acordo sobre a última versão do texto, apesar de uma evolução na redação.

Diante da falta de consenso — princípio fundamental da ONU — todo o processo foi adiado.

Novas negociações à vista

O impasse marcou um fracasso retumbante para o meio ambiente e para a diplomacia internacional, em um momento em que suas fragilidades estão expostas. Ainda assim, os países afirmaram querer prosseguir com as negociações — embora seis rodadas, ao longo de três anos, não tenham conseguido produzir um acordo.

A sessão de negociação "não terminou", declarou Luis Vayas Valdivieso à AFP. A próxima sessão corresponderá a uma "nova parte da CNI5".

"A secretaria trabalhará para encontrar uma data e um local” para retomar as negociações.

Linhas vermelhas esclarecidas

Desde o início do processo em 2022, uma batalha campal foi travada entre dois lados que parecem irreconciliáveis.

Os "ambiciosos", que incluem a maioria dos países da América Latina, a União Europeia, Canadá, Austrália, vários países da África e as nações insulares, querem reduzir a produção mundial de plástico e controlar as moléculas consideradas mais preocupantes para a saúde.

Do outro lado, os países petroleiros rejeitam qualquer restrição à produção ou proibição de moléculas ou aditivos perigosos. Estes últimos não aceitaram que a negociação se baseasse em "todo o ciclo de vida" do plástico, ou seja, desde a substância derivada do petróleo até seu estado de resíduo.

As nações ligadas à produção de petróleo fizeram uma campanha de pressão para modificar o "escopo" ou o âmbito de aplicação do texto do tratado, que havia sido definido em 2022 durante a Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.

Fazendo bom coração diante da adversidade, a diplomata Inger Andersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), afirmou que os 10 dias de negociações permitiram compreender "com mais detalhes as linhas vermelhas" de cada país.

Aterrado, queimado ou jogado fora

Enquanto isso, a situação é cada vez mais grave. O planeta produziu mais plástico desde o ano 2000 do que nas cinco décadas anteriores, a maioria produtos de uso único e embalagens.

E a tendência se acelera: se nada for feito, a produção atual, de cerca de 450 milhões de toneladas anuais, triplicará até 2060, segundo previsões da OCDE. Menos de 10% é reciclado.

A poluição plástica é tão onipresente que microplásticos foram encontrados nos picos das montanhas mais altas, nas fossas oceânicas mais profundas e espalhados por quase todas as partes do corpo humano.