Muitos estudos já haviam comprovado o papel da microbiota cutânea, em particular o de bactérias oportunistas patogênicas, como Staphylococcus aureus (S. aureus), em diversas doenças de pele. Recentemente, novos estudos constataram a superabundância da espécie Staphylococcus epidermidis (S. epidermidis) em regiões lesionadas de peles frágeis. O que os pesquisadores descobriram é que essa bactéria comensal comum, presente na microbiota sadia e habitualmente benéfica para o hospedeiro, talvez contribua para a degradação do fenótipo cutâneo.

O objetivo dos estudos realizados pela equipe do Dr. Gallo era identificar o papel e o mecanismo de ação de duas espécies - S. aureus e S. epidermidis - na patogênese de duas doenças inflamatórias da pele: a síndrome de Netherton e a dermatite atópica.

Os resultados obtidos confirmaram a função patogênica do S. epidermidis em peles frágeis, de maneira análoga à ação do S. aureus. Os efeitos nocivos dessas duas espécies são a consequência da comunicação interespécies que utiliza como canal um sistema inteligente conhecido como quorum sensing, possibilitando a sincronização da secreção de proteases específicas das duas populações bacterianas. Esses fatores de virulência exacerbam a ruptura da função de barreira cutânea e o fenômeno inflamatório, sintomas característicos da síndrome de Netherton e da dermatite atópica.

Laura Cau, que participou do projeto da UCSD no âmbito de um programa de Voluntariado Internacional Científico financiado pela Silab, explica: "Essas descobertas evidenciam o quanto a saúde cutânea está sujeita à influência da comunicação entre espécies microbianas que ocorre no ecossistema epidérmico. Os resultados consolidam a compreensão do papel da microbiota comensal para o desenvolvimento de patologias inflamatórias da pele".

É possível que outras espécies microbianas tenham um efeito nefasto similar, da mesma forma que alguns fungos, como o Malassezia furfur. A síndrome de Netherton e a dermatite atópica constituem, portanto, doenças complexas, influenciadas não somente pelo genoma dos hospedeiros, mas também pelas numerosas espécies que colonizam a pele