Os perfumistas até hoje só dispunham do segredo industrial como recurso para proteger suas criações, que não são cobertas pelo direito de propriedade intelectual. No entanto, essa proteção foi se tornando mera ilusão com o crescente aprimoramento das tecnologias de análise, em particular a cromatografia em fase gasosa, capaz de revelar, em pouquíssimo tempo, a composição química de uma fórmula.

É bom lembrar que a criação de um perfume original é um processo demorado e minucioso, que requer diferentes tipos de expertise, muito tempo e uma longa série de testes. Trata-se de um processo que envolve grandes investimentos. O problema é que os falsários – que são legião na indústria de luxo – não desembolsam nenhum centavo quando pirateiam o trabalho dos perfumistas. A consequência lógica é que os perfumes e cosméticos figuram entre os produtos mais falsificados do mundo.

Base incolor e inodora

Para proteger o trabalho criativo de seus perfumistas e o investimento de seus clientes, em 2018 a Symrise deu início a um programa de proteção de seus perfumes baseado na dissimulação, durante a análise cromatográfica, dos ingredientes que compõem as fórmulas.

Desenvolvida pela equipe de P&D da Symrise em colaboração com os perfumistas da casa, essa tecnologia utiliza uma base universal inovadora, incolor e inodora, que garante a unicidade do perfume no qual ela é aplicada. A base contém uma mistura de matérias-primas específicas com excelente resistência aos raios UV e termicamente estáveis, que têm a capacidade de induzir uma ampla gama de interferências durante a análise por cromatografia em fase gasosa. Ao falsear a quantificação e a identificação de algumas matérias-primas, essa tecnologia torna muito mais difícil a reprodução idêntica da fórmula do perfume.

Testada em 45 fórmulas

Finalizada em 2019, a tecnologia Cryptosym já foi aplicada a 45 fórmulas elaboradas pela Symrise, abrangendo diversas famílias olfativas.

A empresa realizou ensaios cromatográficos com 133 ingredientes, tanto naturais como sintéticos. Os testes mostraram que a tecnologia dificultava a análise de 118 dessas 133 substâncias: 93 ingredientes foram mal quantificados e os 25 restantes não foram corretamente identificados .

A conclusão, segundo a Symrise, é que 40% das matérias-primas são afetadas pela tecnologia Cryptosym, e 29% desses ingredientes podem ser inteiramente "criptografados" por ela.

"A tecnologia Cryptosym é uma revolução para o setor, pois até hoje não existia nenhuma ferramenta que protegesse a propriedade intelectual das criações realizadas por perfumistas", ressalta Aliénor Massenet, perfumista sênior da Symrise. "Graças à Cryptosym, ficou muito mais difícil falsificar um perfume: o processo se torna muito mais demorado, e o falsário não tem garantia alguma de que vai encontrar aquele algo mais que faz a diferença entre um produto de sucesso e uma vulgar imitação".

Atualmente, a Symrise continua desenvolvendo pesquisas com o objetivo de coletar um número maior de dados, mas já começou a oferecer essa tecnologia como opção a seus clientes.