Álcool obtido a partir de fontes vegetais renováveis, como frutas e cana de açúcar, o sorbitol deverá ter crescimento de sua demanda na indústria cosmética, segundo um relatório internacional da empresa de pesquisa e consultoria em tecnologia TechNavio. O ingrediente é utilizado como umectante e emoliente na produção de cremes, emulsões e loções, além de cremes dentais.

O documento mostra projeções do mercado global de sorbitol entre os anos de 2017 e 2021, considerando também o uso do insumo nas indústrias alimentícias e farmacêuticas. Na América Latina, a expectativa é de geração de US$ 282,2 milhões pelo sorbitol. Em todas as regiões, o aumento na demanda é impulsionado por seu uso em produtos de cuidados pessoais.

Renata Pagliarussi, diretora-geral da Lush no Brasil

Na América Latina, espera-se que o mercado de cosméticos cresça a uma taxa mais elevada em comparação com os EUA, devido ao aumento da demanda de países como Brasil e Argentina. O crescimento da indústria de higiene pessoal e cosméticos deve impulsionar a busca por sorbitol na região durante o período analisado”, esclarece no documento Kshama Upadhyay, especialista em pesquisa de especialidades químicas da TechNavio.

Luiz Gustavo Martins Matheus, diretor técnico da fabricante de bioativos para a indústria cosmética Mapric, explica que a função umectante do sorbitol promove a manutenção do teor de água no produto. “Em formulações emulsivas, por exemplo, o sorbitol mantém o teor de umidade na superfície da emulsão, evitando a formação de uma película rígida que pode prejudicar o sensorial do produto. Já nos cremes dentais, pode ter também a função de co-emulsionante, espessante e até mesmo edulcorante”.

A busca crescente por ingredientes naturais e sustentáveis nas formulações cosméticas também pode expandir a demanda pelo sorbitol. “Algumas das vantagens do sorbitol em relação a produtos petroquímicos estão relacionadas à sua origem renovável e características de segurança toxicológica, comprovadas por inúmeros artigos científicos”, esclarece o diretor técnico.

O sorbitol é obtido pela hidrogenação catalítica da glicose ou da frutose, afirma Matheus. Na maioria das vezes, estes monossacarídeos são extraídos de frutas como maçã, ameixa, uva e caju. O gasto de energia e a emissão de gás carbônico para esta produção são muito baixos, além do fato de o sorbitol ser um produto biodegradável em comparação aos umectantes petroquímicos tradicionais. “Estes pontos podem ser muito importantes, dependendo do conceito que o produto cosmético tenha para o consumidor”, ele ressalta.

Em 2014, a fabricante global de cosméticos Lush reformulou a base de seus sabonetes, retirando o óleo de palma e seus derivados, bem como o monopropilenoglicol (MPG), que é um derivado petroquímico. O sorbitol foi o ingrediente escolhido para substituir o MPG, segundo a diretora-geral da Lush no Brasil, Renata Pagliarussi. “Todos os nossos sabonetes levam sorbitol em sua composição. Escolhemos esta matéria-prima por sua ação umectante e estabilizadora. Ela impede a perda de água pela pele ou cabelo. Também há sorbitol em nossos tabletes dentais, pois ele é um edulcorante que confere sabor adocicado, sem causar cáries”, explica.

Pagliarussi afirma que a Lush Brasil utiliza dois tipos de sorbitol, sendo um comprado pelo Brasil e produzido na Indonésia, e o outro importado da Inglaterra e fabricado na China. Ela destaca que o sorbitol tem propriedades em comum com os ativos petroquímicos, mas com menos impacto ambiental. “Entendemos que, à medida em que a busca por produtos mais sustentáveis aumente, as empresas, a exemplo da Lush, também comecem a substituir por sorbitol aqueles ingredientes com impacto nocivo ao meio ambiente”.