Sandrine Héraud, LabSkin Creations (Foto: LabSkin Creations)

Sandrine Héraud, LabSkin Creations (Foto: LabSkin Creations)

Brazil Beauty News - O segmento de substitutos cutâneos parece oferecer perspectivas promissoras, principalmente desde 2013, ano em que a União Europeia passou a proibir a venda, em seu território, de produtos cosméticos testados em animais.

Sandrine Héraud - Efetivamente, imitar a pele é um tema muito vasto. Desde 2014, a LabSkin Creations desenvolve modelos criados por engenharia de tecidos. Esses modelos, cada vez mais aperfeiçoados, são usados pelas indústrias de cosméticos, dermocosméticos e farmácia. Desde a criação da empresa, desenvolvemos peles reconstruídas sob medida e com variados graus de complexidade, usadas para testar a eficácia de ingredientes e produtos cosméticos.

Brazil Beauty News - No colóquio organizado em janeiro de 2019 pelo Centro Europeu de Dermocosmetologia (CED), a LabSkin Creations apresentou um modelo de pele que reproduz a dermatite atópica. O mínimo que se pode dizer é que é uma forma muito original de abordar o problema!

Sandrine Héraud - A dermatite atópica é uma doença inflamatória crônica, que afeta mais de um em cada dez recém-nascidos. A LabSkin Creations associou diversas estratégias para realizar esse modelo. O elemento inovador é o uso de células de pacientes que apresentam dermatite atópica, às quais associamos linfócitos. Isso faz com que seja o primeiro modelo humano in vitro de dermatite atópica com um componente imunitário. Nos pacientes com dermatite atópica, observa-se uma migração das células imunitárias em todo o tecido. O modelo da LabSkin Creations apresenta um fenótipo patológico que imita o perfil cutâneo alterado característico dessa doença, oferecendo a possibilidade de testar ingredientes e produtos acabados desenvolvidos com o objetivo de tratar a patologia.

Brazil Beauty News - A impressão 3D vem revolucionando a engenharia de tecidos. Como a LabSkin Creations está integrando essa nova tecnologia?

Sandrine Héraud - A bioimpressão é uma tecnologia totalmente nova que provocou uma pequena revolução no segmento de engenharia de tecidos, rompendo com as técnicas utilizadas anteriormente. E foi por isso que orientamos nossa pesquisa para essa área. O trabalho que desenvolvemos é fruto de uma excelente colaboração com as equipes de Christophe Marquette, da 3d FAB, que são especializadas em impressão 3D.

A bioimpressão tem a vantagem de permitir a obtenção de estruturas tridimensionais extremamente complexas, com grande precisão, reprodutibilidade e automatização. Graças a essa tecnologia, podemos obter uma amostra de pele madura em 21 dias, contra 45 dias quando usamos culturas in vitro. Em 2016, registramos uma primeira patente de um modelo de pele completo, com derme e epiderme. Mais tarde, integramos a hipoderme, trabalhando a partir de células-tronco do tecido adiposo. O modelo pode conter também um sistema vascular ou componentes cutâneos anexos, como glândulas sebáceas. Além disso, é possível pigmentar a epiderme, adicionando melanócitos. Os componentes celulares podem ser adaptados sob medida, o que oferece grande flexibilidade aos clientes.

A pele é formada por mais de dez componentes celulares. Nosso objetivo com a oferta dos modelos 3D é ir o mais longe possível, integrando, entre outros, células de Langerhans e inervação cutânea. Buscamos também reproduzir a forma fisiológica ondulada da junção dermoepidérmica, que é plana nos modelos existentes construídos com os métodos de engenharia convencional. Para as equipes, o desafio é imenso.

Paralelamente, estamos participando do projeto colaborativo Bloc-Print, que reúne, além da LabSkin Creations, a 3d FAB e o centro hospitalar Hospices Civils de Lyon, em parceria com a Direção Geral de Armamento da França. O objetivo dessa aliança é promover a utilização de tecnologias de bioimpressão para tratar soldados queimados no próprio campo de batalha. As células extraídas da pele sadia do paciente serão integradas a nossa biotinta e em seguida diretamente reimpressas no paciente, por meio de uma bioimpressora equipada com braço articulado.

Brazil Beauty News - Como a senhora vê o futuro dos modelos 3D?

Sandrine Héraud - A oferta de modelos 3D bioimpressos criou uma ponte que nos levou a estabelecer contato com novos clientes. Primeiramente, a complexidade dos modelos 3D atualmente disponíveis graças à bioimpressão oferece novas perspectivas de desenvolvimento. Em segundo lugar, graças a essa tecnologia podemos padronizar os modelos 3D e torná-los reprodutíveis, abrindo caminho para a descoberta de novos princípios ativos. O setor de cosméticos representa 90% dos nossos clientes, mas as indústrias farmacêutica e médica também têm mostrado interesse nas aplicações da bioimpressão para a área de medicina regenerativa.