Rumo à conquista de novos territórios, os perfumistas buscam inspiração em frutas, legumes e delícias refrescantes, inaugurando um tipo inédito de dependência que traz maior leveza e traduz um estilo de vida mais sintonizado com a saúde. Aliás, bem-estar e saúde se tornaram prioridades para todas as gerações, inclusive para a geração Z, que incorporou plenamente essas ideias com espírito coletivo e consciencioso, abraçando os movimentos vegetaliano e flexitarista.
Os perfumistas estão redescobrindo a verdadeira natureza de frutas suculentas como cereja, banana, ameixa e pera, que deixaram de ser sinônimos de perfume barato para estrelar sua nobreza em criações de todas as marcas. Seu caráter complexo e fresco e seus tons irresistíveis hoje ganham espaço em fragrâncias dos segmentos de luxo e de nicho. As frutas não são, porém, os únicos ingredientes limpos a conquistar um lugar no universo dos perfumes tradicionalmente gourmands.
Por que o senhor aprecia trabalhar com notas frutadas?
Isaac Sinclair - O universo das frutas é como um parque de aventuras, pois oferece uma infinidade de notas diferentes que podemos usar diretamente ou como fonte de inspiração. Seja ela madura ao extremo, fresca, crocante, suculenta ou carnuda, cada fruta confere uma personalidade diferente ao perfume, criando possibilidades olfativas infinitas, com nuances, facetas e cores próprias.
Como o senhor vê a evolução dessa tendência?
Isaac Sinclair - Acredito que as frutas raras e exóticas vão se tornar cada vez mais populares, simplesmente porque as notas frutadas mais comuns - pera, maçã e pêssego, por exemplo - já foram usadas de forma excessiva.
Que notas frutadas o senhor tem usado em suas criações?
Isaac Sinclair - Depende muito da estrutura do perfume. Gosto de usar framboesa em composições amadeiradas e frescas, porque seu caráter verde e ácido combina bem com outros ingredientes e confere um efeito acidulado ao perfume. Mas já aconteceu de eu usar cereja em fragrâncias mais orientais, mais sensuais. Para mim, a fruta traz um toque de complexidade, conferindo uma nova dimensão aos elementos balsâmicos.
Quando o senhor viajou pela Amazônia, descobriu frutas interessantes para o setor de fragrâncias?
Isaac Sinclair - O Brasil é o país das frutas, em particular a região amazônica. Quando vim para cá pela primeira vez, custei a acreditar que a castanha de caju nascesse na extremidade de uma fruta tão saborosa, perfeita para composições frescas e ultracoloridas, como a famosa caipirinha. Outra fruta interessante é o cupuaçu, primo pouco conhecido do cacau, ingrediente que já utilizei em algumas fragrâncias florais, por exemplo. O cupuaçu acrescenta um curioso efeito leitoso que eu aprecio muitíssimo.
Como o senhor vê o uso, na formulação de fragrâncias, de ingredientes à base de hortaliças, como os que a Symrise lançou?
Isaac Sinclair - Os ingredientes da nova coleção Garden Lab abrem um novo horizonte de perspectivas para os perfumes contemporâneos e oferecem a nós, perfumistas, a possibilidade de adicionar facetas inesperadas e inovadoras às fragrâncias que criamos. Gosto em particular da nota de alho-poró que, surpreendentemente, é estimulante e confere um toque natural às notas de cabeça frutadas, como cassis e goiaba.