O canabidiol (CBD) é um fitocanabinoide extraído do óleo do cânhamo, a Cannabis sativa. “O CBD age nos receptores canabinóides do organismo, responsáveis por regular os outros sistemas do nosso corpo”, explica a médica dermatologista Lilian Odo. Ela diz que o derivado não psicoativo da maconha tem poder analgésico e atua no equilíbrio do metabolismo, sono e humor. Na pele, funciona como anti-inflamatório e pode retardar sinais de envelhecimento.

Por isso, a oferta de cosméticos com CBD cresce no mundo – e não é exatamente uma novidade. Em 1998, a The Body Shop lançou o Hemp Hand Protector, hidratante para mãos que é um dos produtos mais vendidos do portfólio até hoje. Grandes marcas como Kiehl’s - da L’Oreal -, Tresemmé - da Unilever -, e Avon - da brasileira Natura -, também criaram produtos com o ingrediente. Mas eles não chegam ao mercado brasileiro.

No país, o CBD é liberado apenas para fins medicinais, mediante receita médica de controle especial. A legislação atual proíbe a fabricação, compra, venda ou importação de qualquer tipo de cosmético à base de canabidiol.

O Brasil ainda está bem ultrapassado quanto à permissividade de matérias-primas. O canabidiol já é um ativo consolidado no mercado internacional, mas aqui seguimos atrasados pelo tradicionalismo e paradigmas de religião que regem nosso país”, afirma Patricia Lima, CEO e fundadora da Simple Organic. “Como o uso do canabidiol e seus derivados ainda não é permitido pela Anvisa para fins cosméticos, pensamos em como preencher essa lacuna”.

Linha de haircare da Haskell desenvolvida com ingrediente da...

Linha de haircare da Haskell desenvolvida com ingrediente da Beraca

A resposta já vinha sendo desenvolvida pela Beraca desde 2017. “Foi em uma convenção internacional nos EUA que ouvimos pela primeira vez falar de CBD para o mercado de alimentos. Como esse é um segmento que pauta muito o mercado de beleza, pensamos, ‘isso tem potencial, isso vai brilhar’”, revela Marianna Cyrillo, gerente de marketing da fabricante de ativos naturais e orgânicos da biodiversidade brasileira.

A partir daí foram dois anos de estudos e testes até o lançamento do CBA (Cannabinoid Active System). “Composto por um blend de óleos amazônicos, o ativo cosmético é uma alternativa natural e legal ao CBD”, diz Cyrillo. Assim como o canabidiol, o ingrediente é um fitocanabinoide, responsável pela produção de beta-endorfinas, promovendo sensação de bem-estar, redução da inflamação e melhorias na cicatrização da pele, segundo ela.

Com o CBA, a Simple Organic lançou há quase um ano o balm CB2. “O CBA permitiu criar um produto que une o wellness com o skincare. Além do conforto e relaxamento que traz para a pele, ele também auxilia na reparação tecidual”, diz Lima. “Na pré-venda, o produto esgotou em duas horas e ele segue como um dos nossos best-sellers”.

Também tem feito sucesso a linha de haircare CBA Amazônico, lançada recentemente pela Haskell com o ativo da Beraca. “O Cannabinoid Active System promove sensação calmante e suavizante no couro cabeludo”, afirma a gerente de marketing Mayara Araújo.

Ela fala da importância de esclarecer ao público que o CBA não provém e nem tem nenhuma relação com a Cannabis sativa, mas salienta que o que existe no país é um receio cultural na utilização do canabidiol como princípio ativo. “A linha nos fez perceber que as pessoas têm curiosidade e desejo de desfrutar dos benefícios desse ativo que possui ações semelhantes ao CBD. A demanda reprimida por cosméticos com canabidiol é cada vez maior”, diz Araújo.

Cyrillo pensa de forma um pouco mais ampla. “Acho que existe uma demanda no Brasil por cosméticos que não necessariamente contenham CBD, mas que levem à questão do mindfulness, do bem-estar. Nisso, acho que o mercado brasileiro ainda está engatinhando e é nessa lacuna de mercado que a Beraca quer inserir o CBA”, finaliza.