Brazil Beauty News – A Cosmetics Europe pediu aos fabricantes que parassem de usar metilisotiazolinona (MIT) nos cosméticos que permanecem na pele (sem enxágue). Além disso, é possível que em breve a Comissão Europeia limite o uso dessa substância. Quais as consequências dessas medidas?

Bertrand L’Homme - A primeira consequência é que ela será retirada do mercado, até porque outros países devem seguir o exemplo da Europa. Sem entrar no mérito das decisões tomadas pela Comissão, temos bons motivos para acreditar que a MIT não poderá mais ser usada em produtos sem enxágue. No caso dos produtos com enxágue, é possível que o uso passe a ser controlado. Seja como for, a medida acarretará uma redução da margem de manobra dos fabricantes em matéria de proteção das fórmulas contra micro-organismos. O leque de conservantes disponíveis vem sendo cada vez mais reduzido pela regulamentação, mas também por restrições que as próprias marcas têm adotado por razões de marketing ou de concorrência. A MIT representava uma alternativa ao uso de parabenos, que – vale lembrar – não são proibidos por lei, apenas têm uso parcialmente restrito.

Atualmente, existem mais de 50 substâncias na lista de conservantes autorizados para uso em cosméticos na Europa. Na prática, pouco mais de dez são regularmente empregados, e vários deles estão perdendo terreno ou passarão a ser controlados. Por um lado, essa concentração em um número reduzido de substâncias aumenta mecanicamente os riscos de alergia e, por outro lado, gera um fenômeno de adaptação dos micro-organismos e a criação de biofilmes perigosos no processo de produção.

Brazil Beauty News - É fato que os conservantes têm péssima reputação...

Bertrand L’Homme - É verdade, cada vez mais vemos produtos que se anunciam "sem conservantes". Em alguns mercados, como a Coreia, é praticamente uma norma. Mas, na prática, o que há por trás dessa indicação no rótulo? Na maioria das vezes, o uso de substâncias ditas "alternativas", que não são oficialmente listadas como conservantes, mas que têm efeito similar.

Brazil Beauty News - Conservantes não identificados como tal?

Bertrand L’Homme - O termo conservante tem a seguinte definição: substância de origem natural ou sintética, cuja principal função é proteger o produto contra o desenvolvimento de micro-organismos. Já essas substâncias "alternativas" não têm como função principal a proteção do produto - porém, também têm esse efeito. Do meu ponto de vista, se um fabricante utiliza exclusivamente substâncias ditas alternativas - que agem secundariamente como conservantes - apenas para poder indicar no rótulo a ausência de conservantes, sua posição jurídica é no mínimo duvidosa.

Brazil Beauty News - Independentemente do aspecto jurídico, essas alternativas não representam também um problema de segurança?

Bertrand L’Homme - É uma boa pergunta. Nem sempre dispomos de estudos sobre essas substâncias, que podem ser usadas sem controle algum do nível de concentração. Já começamos a observar problemas de irritação e sensibilização provocados por substâncias como ácido sórbico ou sorbitol. A razão da existência de uma lista de conservantes autorizados é o controle dessas substâncias. Para lançar um conservante no mercado, é preciso apresentar documentação extremamente detalhada. Com as alternativas, raramente dispomos das mesmas garantias. Mas devemos também admitir que as coisas ficaram mais complicadas com a proibição de testes em animais. Hoje, nos planos jurídico e técnico, é praticamente impossível apresentar um dossiê científico para um novo conservante. Isso explica, em parte, o artifício de atribuir uma outra função principal a um ingrediente que ofereça as propriedades de um conservante.

Brazil Beauty News - Mas existem também soluções puramente físicas para proteger as fórmulas, não?

Bertrand L’Homme - Essas soluções estão começando a se tornar operacionais. Elas requerem a associação de processos que garantem a descontaminação das fórmulas e o seu acondicionamento em embalagens protetoras, sem risco de recontaminação. Esses processos envolvem um custo que pode ser financiado por certos segmentos, mas não pelos fabricantes que produzem para o mercado de massa.

Brazil Beauty News - O que o Senhor recomendaria, então?

Bertrand L’Homme - O conselho que damos em primeiro lugar aos nossos clientes é continuar usando moléculas disponíveis e aprovadas. Em seguida, testar com parcimônia e prudência as substâncias alternativas. Tanto do ponto de vista jurídico como do ponto de vista da eficácia técnica e da inocuidade, a solução mais segura é manter um conservante autorizado nas fórmulas e, se for o caso, potencializá-lo com uma substância que não faz parte da lista.

Por último, globalmente penso que a proteção deve ser adaptada às necessidades reais da fórmula e deve ser diversificada. A necessidade de proteção de cada fórmula deve ser avaliada – isso faz parte dos serviços que oferecemos.

O mercado caiu em sua própria armadilha. Pessoalmente, não tenho dúvidas de que os parabenos voltarão à cena industrial.