Não apenas nos cosméticos, como também em têxteis, detergentes e muitos outros produtos do dia a dia, os microplásticos são onipresentes. Hoje, sabe-se que eles são encontrados no ar, na água, no solo e até mesmo no sangue de animais e de seres humanos em todas as regiões do planeta.

Diante da busca de alternativas para esses produtos por parte de muitos setores da indústria, uma equipe de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em colaboração com a BASF, sugere que a solução talvez esteja no uso da seda [1].

"A União Europeia já determinou que todos os microplásticos adicionados e não biodegradáveis devem ser eliminados até 2025. Por isso, muitas pesquisas estão em andamento para encontrar substitutos adequados, mas a solução ainda não existe", ressaltam os pesquisadores em um comunicado.

Fibroínas de seda

Os pesquisadores do MIT se debruçaram sobre as propriedades das fibroínas de seda, que oferecem a vantagem de não serem solúveis na água, mas ao mesmo tempo serem biodegradáveis pela ação de enzimas proteolíticas habitualmente produzidas pelos organismos vivos.

Utilizando um processo de secagem por pulverização e de liofilização por pulverização ultrassônica, a equipe de engenheiros desenvolveu e fabricou microcápsulas à base de seda com uma ampla gama de estruturas.

"Ajustando com precisão a disposição das cadeias de polímeros dos materiais de seda e adicionando a eles um tensoativo, é possível definir as propriedades dos revestimentos obtidos, uma vez que o processo de secagem e endurecimento estiverem concluídos", explicam os cientistas.

Portanto, o material pode ser hidrófobo (repelir a água), mesmo que seja fabricado e processado em solução aquosa, ou hidrófilo (atrair a água), ou ainda ter características entre esses dois extremos, podendo também ser adaptado a determinadas aplicações a fim apresentar as propriedades do material que ele deve substituir.

Reúso de tecidos de seda descartados

Considerada "segura" nas áreas de alimentação e medicina, a seda é um material biodegradável e não tóxico para o organismo. Além disso, é um insumo fácil de se obter, visto que pode ser extraído de casulos de bichos-da-seda ou ser reciclado a partir de retalhos de tecidos descartados (ou a partir de seda de qualidade inferior que não possa ser utilizada na fabricação de roupas).

Atualmente, 90% da seda produzida no mundo é originária da China. Essa concentração geográfica ocorre, em grande parte, porque o país aprimorou o processo de produção de fios de seda de alta qualidade, necessários à fabricação de tecidos. A técnica desenvolvida pelos engenheiros do MIT utiliza seda por atacado, não necessariamente de grande qualidade. "Caso essa técnica venha a ser amplamente utilizada, seria perfeitamente viável aumentar a produção em outras regiões do mundo para satisfazer à demanda local", declara Benedetto Marelli, professor de engenharia civil e ambiental do MIT e coautor do artigo.

Portanto, é possível realizar o processo de encapsulação a partir de casulos que não sejam destinados à produção têxtil ou até a partir da reciclagem da seda de tecidos descartados. "A técnica é simples e pode ser implementada nas instalações de fábricas que já estejam em funcionamento", explica Muchun Liu, pós-doutoranda no MIT e principal autora do estudo.

Embora, no passado, outras experiências similares tenham sido realizadas com materiais biodegradáveis com vistas a substituir os microplásticos, a equipe do MIT ressalta a necessidade de encapsular substâncias ativas altamente concentradas para possibilitar o uso comercial.

"A única maneira de garantir um impacto real é conseguir não apenas substituir um polímero sintético por um equivalente biodegradável, como também obter um desempenho idêntico ou até melhor", afirma Benedetto Marelli.