O momento de refúgio e autocuidado elevou vendas de produtos corporais e capilares, gerando também novas oportunidades de mercado.

A divisão de tarefas domésticas e de cuidados com os filhos nunca foi igualmente distribuída entre os sexos no Brasil. Pesquisa divulgada em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que mulheres dedicavam 21,3 horas a estas tarefas, quase que o dobro do tempo dos homens, com 10,9 horas.

Com a chegada da Covid-19, trazendo trabalho e estudos para dentro de casa, essa desigualdade ficou mais evidente. Um estudo realizado com moradores da cidade de São Paulo entre o final de 2020 e o início de 2021 pela Rede Nossa São Paulo mostrou que a preparação das refeições e a limpeza da casa são atribuídos mais às mulheres (85%) do que aos homens (14%). O mesmo acontece com o cuidado diário com os filhos, deixado ao cargo de 88% das mulheres, contra 11% dos homens.

Não é de se espantar a quantidade de mães brasileiras que se declaram sobrecarregadas após a pandemia. Tanto, que elas se tornaram tema de uma pesquisa feita pela Mintel, principal agência de inteligência de mercado do mundo. Responsável pelo estudo, a analista de beleza e cuidados pessoais Amanda Caridad revela: “43% das mulheres que são mães relataram que começaram a ter dificuldades emocionais porque a pandemia tornou mais difícil lidar com as tarefas diárias. Além disso, 76% disseram que gostariam de cuidar mais de si caso tivessem mais tempo livre”.

O banho se tornou um refúgio para essas mulheres. Das mães com filhos de até 18 anos, 45% afirmaram que passaram a gastar mais tempo no banho. “Momentos que até então eram considerados banais, como uma rotina de banho, se tornaram um ritual que pode ajudar a reestabelecer as energias e olhar para si mesma”, diz Débora Gentil, gerente de marketing da The Body Shop.

Caridad ressalta que essa mudança de comportamento abriu novas possibilidades de mercado em categorias de cuidados pessoais. “Vemos oportunidades que já vêm sendo exploradas por marcas nacionais”. É o caso da The Body Shop, que acaba de lançar a linha Lemon, com produtos para cabelo e corpo com ação antibactericida.

Outro dado importante da Mintel diz respeito à higienização dos cabelos: 41% das mães passaram a lavar o cabelo ao voltar para casa de locais públicos, sendo que 38% pretendem manter este hábito depois da pandemia. “Com a lavagem mais frequente, os fios tendem a ficar ressecados. As marcas podem aumentar a oferta de produtos que ofereçam hidratação profunda e reparação de danos”, diz Caridad.

Foi o que fez a Mahogany, com o lançamento da linha capilar profissional para uso em casa Vital Hair, além dos novos produtos dermocosméticos Vital Dermo. “Percebemos que o cuidado com o corpo e cabelo ficaram mais intensos, mesmo para aqueles que passaram a trabalhar de casa. Então aceleramos desenvolvimentos que pudessem oferecer soluções para essas necessidades”, afirma o gerente de marketing Brian Drummond.

Especialista em cabelos, a Salon Line sentiu o reflexo dessa mudança em sua receita. “As categorias de xampu e condicionador foram beneficiadas com esses novos hábitos e foi um momento bem positivo para alavancarmos nossas vendas, além de podermos estimular ainda mais os cuidados em casa com máscaras de tratamento, como as apresentadas pela linha S.O.S. Cachos Cronograma Capilar”, diz a gerente de marketing Kamila Fonseca.

Para a analista da Mintel, muitos dos comportamentos adquiridos na pandemia - em especial a maior intensidade das rotinas de higiene - permanecerão entre essas consumidoras. “Além disso, muitas mulheres foram impactas financeiramente, com perda do poder de compra, o que se refletirá na busca por produtos mais acessíveis, mas que ainda assim, entreguem os benefícios desejados”, finaliza Caridad.