É melhor substituir o plástico pelo vidro? Adotar soluções de refil? Como analisar objetivamente o balanço de carbono de um produto? Os consumidores estão dispostos a adotar embalagens mais leves? Para responder a essas perguntas, as marcas precisam desenvolver uma reflexão global e integrar tecnologias que muitas vezes acabaram de chegar ao mercado.

Gérald Martines, fundador da In•Signes

Clichês

Para orientar fabricantes de embalagens presentes nas diversas categorias de cosméticos, Pascale Brousse, fundadora da agência Trensourcing, e Gérald Martines, fundador da In•Signes, elaboraram um estudo inédito [1] que faz um balanço de várias aplicações possíveis.

Na introdução, os dois especialistas fazem um alerta contra certos clichês que dominam o mercado. "A poluição por plásticos é uma realidade visível que se transformou num grande desafio, mas isso não deve ofuscar a questão do aquecimento global — esse sim um problema muito maior que qualquer outro em termos de risco sistêmico. Alguns materiais considerados menos poluentes (vidro ou alumínio, por exemplo) na verdade geram um grande volume de gases de efeito estufa. Outro elemento que não pode ser deixado de fora é o público-alvo. Nem todos os consumidores estão dispostos a sacrificar velhos hábitos", ressalta Gérald Martines.

"Nosso objetivo nesse estudo era explicar que precisamos fazer uma análise do ciclo de vida do produto e levar em conta cada elemento que participa do processo. A primeira etapa é analisar todos os escopos em matéria de abastecimento, fabricação, comercialização, uso, etc.", continua Pascale Brousse.

Adotar os três R, mas na ordem certa

O estudo mostra com clareza a necessidade de se apoiar no famoso tripé dos três R: Reduzir, Reutilizar, Reciclar. "Mas é fundamental que sejam implementados nessa ordem, pois eles não são intercambiáveis. Escolher um dos três não significa que o caminho tenha sido percorrido. Não basta simplesmente oferecer embalagens recicláveis para os produtos", insiste Gérald Martines.

De início, a recomendação é reduzir tudo o que for supérfluo. "Percebemos que mesmo as marcas de luxo podem usar embalagens mais leves sem abrir mão do poder de sedução", comentam os autores do estudo. O fator peso enquanto indicador de luxo vem perdendo terreno para versões mais enxutas e minimalistas. Vale também ressaltar diversas iniciativas que buscam simplificar, reduzir ou até eliminar as embalagens secundárias, geralmente vistas pelos consumidores como excessivas ou desnecessárias.

A segunda etapa é o caminho da embalagem reutilizável, a via que mais se aproxima do objetivo resíduo zero. "Se existe um campo com bom potencial para desenvolvimento é justamente o do reúso", observa Gérald Martines. Paradoxalmente, esse caminho é o que mais valoriza a função da embalagem. "Por que jogar fora um objeto cuja fabricação exige a extração de recursos e o uso de energia? Com o reúso, resgatamos hábitos que remontam à primeira metade do século passado, baseados em uma sabedoria camponesa segundo a qual não se deve descartar algo que tenha valor", continua ele. Dependendo da categoria de produto, a estratégia pode exigir maior ou menor esforço de adaptação. Enquanto os segmentos de perfumes e produtos com enxágue já ingressaram nessa nova era, o segmento de cuidados da pele precisa de mais tempo para se adaptar. O estudo coloca em destaque iniciativas como a da CoZie, que desenvolveu uma primeira resposta a esse desafio com sua tecnologia de "fonte": o dispositivo funciona como um dispenser de cuidados da pele, aplicável também a marcas que terceirizam a produção (white label).

Pascale Brousse, fundadora da agência Trensourcing

"Quanto mais esse modelo for desenvolvido, mais econômico será. Devemos apostar no poder de sedução da cadeia logística dos produtos a granel", afirma Pascale Brousse.

Enquanto isso, a solução do refil vem conquistando cada vez mais espaço. "É melhor do que descartar a embalagem inteira, mas resta o problema de as cápsulas e embalagens Doypack serem descartáveis, ou seja, não recicláveis. Além disso, esse tipo de estratégia precisa ser adaptado ao público-alvo. Alguns consumidores, em particular os de produtos de luxo, ainda não aceitam totalmente o sistema de refil. Por outro lado, o público jovem, mais preocupado com o orçamento e com o aspecto ambiental, adota com mais facilidade os novos hábitos. É uma questão de sintonia com a evolução cultural", explicam os especialistas. Mas nunca é demais repetir: o melhor ainda está por vir. A evolução das tecnologias permitirá, dentro de algum tempo, a reciclagem de sacolas flexíveis que, pelo fato de serem fabricadas com plástico multicamadas, por enquanto não têm como ser recicladas.

O terceiro e último aspecto a considerar é que toda embalagem deve oferecer a possibilidade de ser reciclada. "E é aí que entram os princípios de ecodesign. As embalagens não nascem espontaneamente recicláveis, é preciso projetá-las para chegar a esse resultado. Elas devem ser fabricadas com um único material ou com materiais facilmente separáveis, e é necessário que haja uma estrutura de coleta seletiva disponível. A União Europeia aprovou uma diretriz que certamente vai incentivar o ecodesign de embalagens: por um lado, ela impõe que as embalagens contenham no mínimo 50% de material reciclado; por outro lado, proíbe que sejam lançadas no mercado embalagens para as quais não exista infraestrutura de reciclagem disponível. Essas duas exigências, que deverão ser cumpridas até 2030, cobrem as duas extremidades da vida útil do produto (fabricação e descarte) e contribuirão para consolidar o princípio de economia circular", explicam os autores do estudo.

Em relação à reciclagem de plásticos, o estudo elenca diversas iniciativas que complementam a reciclagem mecânica, entre as quais a reciclagem por transformação enzimática, um método natural que, além de consumir menos energia, tem a grande vantagem de se adaptar a todos os tipos de material, com resultados praticamente equivalentes ao dos plásticos virgens.

Por fim, pelo fato de ter sido elaborado com o objetivo de oferecer uma ferramenta imediatamente aplicável às necessidades das marcas, o estudo apresenta uma ampla coleção de exemplos. "Trata-se de um documento prático e pragmático, repleto de soluções concretas que as marcas podem adotar. Basta escolher!", concluem Pascale Brousse e Gérald Martines.