Capturar e sequestrar o CO2 presente no ar "é como ligar uma máquina do tempo que nos transporta de volta a uma época em que a atmosfera era mais limpa", garante Shashank Samala, cofundador e diretor da Heirloom Carbon, startup com sede em Brisbane, não muito longe de San Francisco, na Califórnia [1].

Como prova do grande interesse que esse setor vem despertando, em setembro a Heirloom fechou um contrato com a Microsoft nos termos do qual a gigante da informática vai adquirir créditos de eliminação de carbono (até 315 mil toneladas de CO2), a fim de cumprir sua meta de neutralidade de carbono. Graças a esse contrato, a primeira fábrica da Heirloom poderá entrar em funcionamento até o final deste ano. Além disso, a startup foi selecionada pelo governo americano para participar de diversos projetos de redução do carbono atmosférico.

A escolha do calcário

A tecnologia desenvolvida pela Heirloom Carbon consiste em estruturas com a forma de tabuleiros recobertos de um material semelhante a uma areia branca e compacta, que ficam empilhados em prateleiras estreitas e altas. "Nossa matéria-prima é um mineral natural, o calcário, ao qual conferimos superpoderes, transformando-o em uma espécie de esponja capaz de absorver CO2", explica Noah McQueen, diretor de Tecnologia da empresa.

Depois de deixá-la exposta ao ar, "esprememos essa esponja para retirar o carbono, que é armazenado em reservatórios subterrâneos de maneira definitiva; em seguida, a esponja é reutilizada".

Com esse método, a startup acelera um processo natural que normalmente leva vários anos. O objetivo fixado pela Heirloom é retirar da atmosfera um bilhão de toneladas de CO2 ao ano até 2035, um volume extraordinário se levarmos em conta que o ponto de partida é zero ou quase zero: no ano passado, as usinas de captura direta do ar (DAC, na sigla em inglês) conseguiram aspirar apenas 10 mil toneladas de carbono do planeta, o equivalente a 10 segundos de emissão de CO2 pelo ser humano.

A razão que levou a Heirloom a optar pelo uso de pedra calcária é que essa rocha está disponível em grandes quantidades no mundo. E o que não falta é espaço para o armazenamento do carbono. "Só nos Estados Unidos, dispomos de espaço subterrâneo suficiente para armazenar toda a emissão de carbono desde a Revolução Industrial, em particular com o reaproveitamento de campos de petróleo desativados", ressalta Noah McQueen.

Desafios tecnológicos e riscos de greenwashing

A técnica de captura direta do ar (DAC), utilizada pela Heirloom e pela Climeworks – empresa suíça pioneira do setor –, é diferente dos sistemas Carbon Capture and Storage (CCS), em que o carbono é capturado na saída do dispositivo de emissão. Em geral, esses sistemas são instalados nas chaminés de unidades industriais.

"Na atmosfera, o CO2 é extremamente diluído, chegando a uma concentração de apenas 0,04%. É como procurar uma agulha no palheiro", afirma Will Knapp, diretor Científico da Cocoon, startup britânica do setor de CCS. "É bem mais fácil extrair o carbono da fumaça de uma usina siderúrgica", diz ele. No entanto, Will Knapp reconhece que esse método tem seu lado negativo, pois não impede que as indústrias continuem utilizando combustíveis fósseis.

A LanzaTech também optou pela técnica de captura de carbono na fonte: a partir do carbono capturado, essa startup neozelandesa produz álcool usado na fabricação dos perfumes da gigante americana Coty. Além disso, em parceria com a L’Oréal, a LanzaTech realizou um protótipo de frasco para shampoos fabricado com plástico derivado de emissões industriais de carbono.

No que se refere à Heirloom, Shashank Samala estabeleceu regras estritas, como a de não fazer negócios com empresas que, no final, enviam o carbono de volta à atmosfera. O dirigente se diz "revoltado" com certas empresas que praticam o greenwashing, em especial empresas do setor de energias fósseis, que se valem de vagas promessas de investimento em captura de carbono para desviar a atenção do que realmente importa: reduzir a emissão de gases na atmosfera.

COP28 em Dubai

Mas a demora generalizada em diminuir a emissão de carbono acaba tornando essas tecnologias indispensáveis para garantir que o aquecimento global caia para um nível o mais próximo possível de 1,5°C em relação ao patamar existente na era pré-industrial, adverte a ONU. A conferência COP28 pode constituir um fator de impulso para esse setor em plena expansão, e a captura de carbono será um dos temas centrais do evento, programado para 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, em Dubai.

A Agência Internacional de Energia estima que a necessidade anual de captura direta do ar seja de 80 milhões de toneladas de CO2 em 2030.