Os brasileiros se preocupam cada vez mais com o que comem. Uma pesquisa divulgada em 2018 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) apontou que 80% dos entrevistados buscam uma alimentação saudável. Não é à toa que o setor de orgânicos cresce 25% ao ano no país desde 2015, faturando R$ 4 bilhões, de acordo com o Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis).

Márcio Accordi, diretor da Biozenthi

Isso se reflete no consumo de cosméticos. Ainda que tímida, a categoria de naturais e orgânicos já é uma realidade no Brasil e atrai consumidores interessados em saúde, bem-estar e no meio ambiente. Outras tendências que partiram de hábitos alimentares também vêm ganhando espaço entre nichos da população que enfrentam restrições de consumo, seja por questões patológicas ou na defesa de uma causa.

Os veganos não utilizam nenhum produto de origem animal ou que seja testado em animais. Estima-se que eles já ultrapassam os cinco milhões no país, impulsionando um mercado que cresce 40% anualmente, segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

A Surya Brasil é uma das pioneiras no setor de cosméticos veganos. Com 25 anos de trajetória, a marca trabalha apenas com produtos naturais, orgânicos e livres de ativos ou testes em animais. “É possível ser uma empresa ética, bem-sucedida e sustentável, promovendo a beleza sem efeitos colaterais”, diz Priscila Ferri, responsável pelo marketing. “Nosso objetivo é atender a um público que busca qualidade de vida e nos produtos e se preocupa com a origem dos ingredientes, por respeito e amor aos animais ou pensando nos danos causados ao mundo e à sociedade”, acrescenta.

Vegana desde sua fundação, a Biozenthi também atua em outro nicho. A empresa foi a primeira no Brasil a fabricar todos os produtos livres de glúten e identificá-los nos rótulos, desde 2011.

O glúten é uma proteína encontrada em diversos tipos de cereais, como trigo e aveia. Pessoas intolerantes ao glúten têm dificuldade ou são incapazes de digerí-lo, sofrendo desconfortos gastrointestinais. Já a doença celíaca é um caso mais grave, pois atua no sistema imunológico e pode causar problemas como anemia, fraqueza nas unhas e alergias na pele.

Esses sintomas surgem com a ingestão de glúten. Cosméticos que tenham a proteína ou possam ter entrado em contato com ela durante a fabricação não deveriam ser uma preocupação, já que o uso é tópico e não atinge o intestino, mesmo penetrando na pele. “O problema é que boa parte dos celíacos desenvolve dermatite herpetiforme, doença de pele irritante e que desencadeia um processo inflamatório. Para prevenir reações alérgicas, eles evitam cosméticos com gluten ” explica Márcio Accordi, biólogo e diretor da Biozenthi.

Qualquer cosmético pode ter glúten, mas é mais comum em xampus e hidratantes. “É possível identificar ingredientes que contêm glúten pelo INCI, nomenclatura internacional inserida no rótulo dos cosméticos e isso é padronizado no mundo todo”, afirma Accordi. “Mas pode haver contaminação cruzada, quando um produto é livre de glúten, mas a fábrica utiliza os mesmos equipamentos para outros que têm glúten. O ideal é escolher cosméticos de uma indústria completamente livre da proteína”.

Sucesso do portfólio da Surya Brasil, a henna creme para coloração dos cabelos não tem glúten. “Esperamos que os mercados vegano e gluten free cresçam nos próximos anos”, diz Vinicius Salvatore, do departamento de marketing da marca.

Márcio Accordi também aposta nas categorias. “São dois nichos ainda pouco explorados. Os produtos livres de glúten podem ganhar mais espaço, pois muitos celíacos ainda desconhecem a doença. Já os veganos devem evoluir, porque cada vez mais as pessoas se engajam na causa animal”, completa.