Brazil Beauty News - Qual a filosofia por trás dos materiais alternativos da Sulapac?

Suvi Haimi - A Sulapac foi fundada em 2016, tendo como objetivo lutar contra a poluição por plásticos e combater as mudanças climáticas. A ideia era desenvolver materiais que oferecessem as vantagens dos plásticos, mas sem as desvantagens.

A filosofia da Sulapac é criar produtos que imitem a natureza, isto é: materiais de origem natural que sejam efetivamente capazes de substituir os plásticos tradicionais, mas que, ao mesmo tempo, possam ser digeridos por micro-organismos naturais, resultando, no processo de decomposição, em dióxido de carbono, água e biomassa, sem nenhum outro tipo de resíduo. Como um pedaço de madeira.

Partindo dessa filosofia de base, desenvolvemos uma série de materiais fabricados a partir de madeiras e ligas vegetais que podem ser usadas na fabricação de quatro tipos de produtos: canudos, embalagens para cosméticos, embalagens para nutracêuticos (suplementos) e cutelaria (garfos e facas).

Brazil Beauty News - Que tipos de materiais estão disponíveis?

Suvi Haimi - Em relação aos cosméticos e aos suplementos alimentares, oferecemos atualmente seis tipos de materiais que apresentam diversas propriedades e diferentes composições de origem natural, entre as quais um material que atua como barreira impermeável, destinado a emulsões à base de água.

Quando lançamos os primeiros produtos, tivemos que usar fôrmas específicas, por isso decidimos desenvolver soluções mais universais. Hoje, nossa coleção disponibiliza diversas cores e propostas estéticas.

Brazil Beauty News - Mas a Sulapac também desenvolve soluções sob medida, como fez para a Chanel, não é?

Suvi Haimi - Sim, a atividade principal da Sulapac é criar e testar novas possibilidades, em função das necessidades dos clientes.

Na época, a Chanel estava buscando uma criação personalizada, baseada em critérios estéticos extremamente precisos. Esses critérios incluíam a integração de sementes de camélia ao material usado nas tampas dos potes, que deviam ser produzidos com matéria-prima natural. Nesse caso, foi necessário encontrar soluções para alguns desafios específicos, em razão das propriedades hidrófilas das cascas das sementes de camélia.

Ao todo, foram realizados mais de 40 testes até encontrarmos a composição adequada para o material. Foi um trabalho fascinante combinar subprodutos – como cascas de sementes de camélia e lascas de madeira com certificação FSC – a fim de fabricar esse material exclusivo para um produto do segmento de luxo. Hoje, somos capazes de usar também materiais obtidos de fluxos secundários inabituais, sem prejudicar a funcionalidade do produto final. Dessa forma, conseguimos reduzir ainda mais a pegada ambiental das embalagens.

Essa realização é o fruto de anos de colaboração com a equipe de inovação da Chanel, uma colaboração que também deu origem às tampas dos perfumes da coleção Les Eaux de Chanel, fabricadas com material natural.

Foram testadas várias composições, em busca do melhor resultado estético, bem como da melhor compatibilidade com os equipamentos de produção.

Brazil Beauty News - Atualmente, a Sulapac oferece soluções até mesmo para fórmulas à base de água. Os materiais fabricados pela empresa têm algum limite?

Suvi Haimi - A criação de um material de origem natural que possa atuar como barreira para fórmulas à base de água foi uma grande conquista para a Sulapac, pois possibilitou a ampliação da linha de produtos que podem ser acondicionados em embalagens fabricadas com nossos materiais. Alguns testes mostraram, inclusive, que os materiais da Sulapac oferecem melhor impermeabilidade ao oxigênio do que os plásticos tradicionais.

No entanto, existem certos limites, sim. Por exemplo, ainda não produzimos frascos nem bisnagas. Estamos analisando essas oportunidades, mas por enquanto nossa linha de soluções se restringe a potes e tampas.

Brazil Beauty News - Como a senhora vê o futuro das embalagens para o setor de beleza?

Suvi Haimi - Hoje, dispomos de soluções sólidas capazes de eliminar a poluição por plásticos e reduzir as mudanças climáticas provocadas pela produção de embalagens.

Diante do atual volume de produção de plásticos, que deve continuar aumentando mundialmente, oferecemos a possibilidade de otimizar o uso de polímeros reciclados de origem vegetal, que apresentam as mesmas vantagens que os plásticos tradicionais, sem os inconvenientes.

Nosso objetivo é revolucionar toda a indústria de embalagens, de forma a eliminar os problemas gerados pelo uso de plásticos. Nossas soluções se diferenciam de outros bioplásticos, como o PLA, porque nossos produtos se decompõem inteiramente na natureza, e não somente quando submetidos a condições de compostagem industrial. Não utilizamos nenhum aditivo perigoso ou tóxico, como os que estão geralmente presentes nos bioplásticos. Somos extremamente rigorosos quanto ao uso de materiais que imitam substâncias naturais.

O material que produzimos é reciclável – tanto mecânica como quimicamente – nos mesmos fluxos que os demais biopolímeros. Porém, embora a tecnologia já exista, a maioria dos países não dispõe das infraestruturas necessárias. Esperamos que a situação melhore com a expansão da reciclagem química em nível mundial. Vale ressaltar que, contrariamente aos outros plásticos, se um material nosso for descartado na natureza, haverá uma lenta degradação e transformação em dióxido de carbono, biomassa e água. Ou seja, em hipótese alguma serão produzidos microplásticos ou substâncias tóxicas permanentes.

Estamos atualmente montando um consórcio na Finlândia em parceria com uma empresa de reciclagem, a fim de criar um fluxo capaz de integrar nosso material e reciclá-lo da forma mais eficaz.

Acreditamos no potencial da Sulapac de transformar a indústria de embalagens e os diversos setores em que os plásticos são utilizados. Mas é verdade que ainda somos uma empresa de pequeno porte e precisamos crescer, construir renome no mercado e atingir a massa crítica que nos conduzirá a participar de lançamentos mundiais. A colaboração com grandes marcas, como a Chanel, é uma forma de abrir caminho e contribuir para mudar a situação atual.