As “indie brands” representam apenas 1% do faturamento no setor de cosméticos no Brasil atualmente. Mas, com um crescimento de mais de 40% ao ano, elas vêm atraindo a atenção do mercado. Tanto, que viraram tema de estudo publicado pela consultoria Factor-Kline.

Juliana Bondança Pereira, gerente de projetos da Factor-Kline

Na análise, foram consideradas “indie brands” marcas independentes, que atuam em nichos e têm foco em marketing digital. “As empresas estudadas abrangem essas três categorias. Por independente, entendemos as que são gerenciadas por seus fundadores e não pertencem a nenhum grupo. Elas têm que atender a algum segmento específico de mercado, como o de veganos, orgânicos ou masculino, e também ser fortes no canal digital, principalmente nas mídias sociais”, explica Juliana Bondança Pereira, gerente de projetos da Factor-Kline nas áreas de Químicos & Materiais e Bens de Consumo.

A pesquisa dividiu as empresas em duas partes. Em “Ética e bem-estar” (60%), estão as mais voltadas a hair e skincare e que trabalham com claims como free-from, cruelty-free e naturais. Elas são majoritariamente fundadas por mulheres. Em “Necessidades Específicas”, as marcas lidam com apelos como prática de esportes, cuidados masculinos e veganos, são mais dirigidas ao cuidado com a barba e cabelo e têm principalmente homens como fundadores.

O estudo revelou que quase 90% das “indie brands” foram inauguradas nos últimos cinco anos, mas, apesar de já terem nascido digitais, 72% estão presentes em lojas físicas. “Elas entram no canal digital, porque é onde vão atingir o tipo de consumidor que está sempre atrás de novidades e de olho no que está acontecendo. Ele está muito disposto a experimentar novos produtos, só que não vai direto ao e-commerce. Ele quer cheirar, passar na pele, sentir a textura”, diz Pereira. “Muitas marcas que tinham como estratégia inicial de negócio só o e-commerce, viram que esse consumidor ainda busca muito a loja física”.

Outro dado interessante é que 90% do capital investido para a abertura destas empresas são dos próprios fundadores, muitos guiados por suas próprias necessidades, que não eram atendidas pela indústria de massa. “Teve, por exemplo, uma mulher com câncer que precisava de produtos menos alergênicos. No mercado masculino, com o “boom hipster”, de homens com barba e cabelo comprido, não tinha nada no Brasil para tratar dessas novas exigências. O mesmo aconteceu com marcas voltadas para o esporte. Praticantes sentiam falta de produtos resistentes a água e suor”, cita a gerente da Factor-Kline.

Estas pessoas perceberam que tinha muita oportunidade ali e é isso que traz tanta verdade para as essas marcas. É o próprio fundador falando ‘olha, gente, eu passo esse produto, ele foi feito para mim e agora eu divido com vocês’”, afirma Pereira.

Para ela, o movimento começou com essas pessoas e suas necessidades não respondidas, mas o mercado começa a demandar mais. “A geração Z, que está se tornando consumidora agora, tem necessidades muito mais específicas e é muito mais exigente com as marcas. Ela vai querer produtos com rastreabilidade garantida, alto nível de vegetalização na formulação e veganos. Acho que, daqui uns anos, todos os produtos vão ter que ser veganos”, pondera a gerente. “As ‘indie brands’ atendem muito mais a essas exigências, mas a grande indústria está tentando correr atrás, justamente por que viu que esse mercado não para de crescer”, acrescenta.

As marcas independentes crescem, mas ainda esbarram em dificuldades, como questões regulamentares. “São marcas muito pequenas, só que têm que atender às mesmas exigências que as multinacionais”, diz Pereira. Ela também aponta como problemas o pouco poder de negociação com a cadeia de suprimentos, tanto de ingredientes como de embalagens, e a falta de capital de giro. “Uma vez que o mercado de investimento olhar para as ‘indie brands’, poderemos contar com um crescimento até bem acima de 40%, porque nada mais vai impedir a evolução dessas marcas”, finaliza.