Não é de hoje que Harry Styles cultiva um visual andrógino com o qual arrasa no tapete vermelho e brilha em eventos, shows e espetáculos. Mas foi no final de 2020, há exatamente um ano, que o ídolo planetário rompeu definitivamente com os padrões tradicionais da moda, um universo que sempre teve como base a dualidade homem-mulher: posando para a capa da Vogue, bíblia incontestável do mundo fashion, o ex-membro da boy band One Direction usou um vestido da Gucci. Essa foi a primeira vez que um homem ganhou destaque na edição americana da famosa revista, ainda por cima vestindo um tipo de roupa que, até então, pertencia exclusivamente ao reino feminino. A foto teve o efeito de um pequeno terremoto que abalou as estruturas da distinção de gêneros.

Abaixo os estereótipos

Como em toda (r)evolução, a capa não foi unanimidade entre os leitores, gerando muitas vezes críticas e insultos por parte do público e provocando um inevitável debate. Por outro lado, Harry Styles recebeu o apoio manifesto de um segmento da população muito influente: a geração Z. Uma geração que, bem mais que as anteriores, defende – e por que não dizer exige – a exterminação total dos estereótipos, sejam eles grandes ou pequenos. "Em termos de alvo de marketing, a geração Z não se encaixa em nenhum molde, até porque seus representantes não suportam os estereótipos que as gerações anteriores deixaram como legado. O indício mais claro disso é que eles são totalmente alérgicos à ideia de gênero", explicou Éric Briones, Diretor de Redação do site Journal du Luxe, na edição de março.

É mais do que evidente que o cantor britânico não somente compreendeu a filosofia dessa geração – que as marcas nem sempre conseguem decifrar –, como também decidiu adotá-la plenamente. Destaque como ícone da Maison Gucci, Harry Styles vem cultivando há mais de um ano um estilo gender fluid sem a intenção de provocar ou de chocar, buscando simplesmente expressar sua singularidade e sua personalidade por meio do que há de mais básico e visível: a moda e a beleza.

Como prova de que o ídolo britânico não errou ao abraçar essa filosofia, sua notoriedade cresceu muito nos últimos meses, e hoje seu nome aparece no ranking mundial das personalidades mais influentes da moda. Em março deste ano, na cerimônia do Grammy Awards, em Los Angeles, Harry Styles usou uma echarpe de plumas para dar aquele toque final no visual. Sua escolha criou um buzz (quase) sem precedentes, em torno de um acessório considerado – pelo menos até então – como essencialmente feminino. Na época, a Lyst, plataforma mundial de buscas sobre moda, registrou um aumento de 1.500% nas buscas sobre echarpes de plumas, apenas dois dias depois de o cantor britânico ter exibido o acessório no evento musical.

Seu estilo extremamente pessoal, inspirado basicamente na busca de uma forma de expressão de si mesmo – tendência que ganhou força em 2021 –, foi também o que o içou ao topo do ranking The Year in Fashion. Elaborado pela plataforma Lyst alguns meses antes, o ranking conferiu a Harry Styles o título de personalidade mais bem-vestida do ano, com base nos inúmeros picos de busca gerados pelos trajes que ele exibe em seus videoclipes e aparições públicas.

Aliás, há alguns dias o cantor mais uma vez deu o que falar ao posar para a capa da revista DAZED: sentado numa moto, ele veste uma calça evasê e um top exageradamente recortado. Entre as imagens que ilustram a reportagem, uma foto mostra o artista com um vestido de lã verde e meia de bolinhas; em outra, ele aparece com uma combinação semitransparente; numa terceira, com um enorme casacão acolchoado. O ensaio reafirma sua proposta de dar um basta em estereótipos e dogmas que, nos últimos meses, parecem finalmente estar sendo vencidos, graças à determinação de uma geração mais livre do que nunca. "É engraçado, porque não me vejo como um ícone da moda… Mas unir as pessoas é um motivo de grande orgulho para mim", revelou Harry Styles à revista. Ponto para ele!

A força de uma marca

Harry Styles não pretende baixar a guarda, muito pelo contrário: vai continuar transitando entre os papéis de influenciador, intérprete e criador de um conceito de moda – e beleza – independente de gênero.

O artista acaba de apresentar a marca Pleasing, sua primeira linha de produtos, que oferece uma coleção de cosméticos veganos e ecológicos para todos os tipos de público. Desde as cores selecionadas para o site até os produtos e as fotos que ilustram a campanha, tudo é permeado pela inclusividade. Os primeiros produtos da marca – esmalte, sérum e roller refrescante para os olhos e os lábios – são destinados tanto aos homens quanto às mulheres. O objetivo é, acima de tudo, proporcionar prazer a cada pessoa, seja qual for sua identidade.

A iniciativa é um passo a mais na direção de desenhar os novos contornos de uma sociedade mais inclusiva que une mais do que divide, e da qual a beleza e a moda são alguns dos principais reflexos. Para além da questão de gênero, a proposta é varrer do mapa a ideia de que existe uma única forma de representar a feminilidade ou a masculinidade, oferecendo a cada indivíduo o espaço que ele ou ela merece para se expressar plenamente.