Alexandre Silva colhe sementes de murumuru na floresta amazônica. © AFP Foto...

Alexandre Silva colhe sementes de murumuru na floresta amazônica. © AFP Foto / Nelson Almeida

No coração da floresta amazônica, Alexandre colhe, um por um, os frutos de murumuru que caem da palmeira. Essa planta oleaginosa tropical, muito apreciada pelas marcas de cosméticos, produz um óleo utilizado principalmente na composição de produtos para cabelos e outros cosméticos. A atividade desempenha também um papel econômico importante: a coleta de sementes de murumuru vem contribuindo para aumentar a renda das comunidades locais.

Às margens do Juruá, o mais sinuoso dos rios da Amazônia, avista-se um punhado de casebres de madeira construídos sobre palafitas. Ali, o centro de coleta de Providência foi fundado há cerca de 20 anos em um dos locais mais remotos do Brasil, a mais de 700 km de Manaus e a 3 horas de barco da cidade mais próxima, Carauari (25 mil habitantes). A cada vez que um barco a motor chega trazendo visitantes, um alegre grupo de crianças corre para acolhê-los.

Alexandre colhe os frutos que, ao secarem, se soltam do cacho e caem no chão. Em seguida, sua esposa Maria Terezinha quebra os frutos para retirar a amêndoa, que ela vai colocando em um saco de juta.

Após processamento, é possível extrair a manteiga de murumuru, um ingrediente importante que, entre outras propriedades, oferece restauração a fibras capilares danificadas, graças a sua composição química.

Óleo precioso

Há 15 anos, as comunidades ribeirinhas do Juruá encontraram na venda dos frutos de murumuru um complemento para a renda familiar. Os ganhos, para uma família da região, podem alcançar 1.800 reais ao ano. Segundo estatísticas oficiais, a renda per capita anual de Carauari, situada em uma das regiões mais pobres do país, é de 2.600 reais.

A gigante de cosméticos Natura trabalha atualmente com 400 famílias que vivem na reserva do médio Juruá. Segundo a empresa, apenas metade dos habitantes da região são alfabetizados. A Natura mantém um projeto educativo voltado para a população local e investe em equipamentos para o processamento do óleo de murumuru, de andiroba e de ucuuba.

Segundo Carlos Koury, secretário-executivo do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, embora a população não tire dessa atividade sua principal fonte de renda, a colheita aumenta consideravelmente os ganhos, ainda que o valor dependa do volume de frutos coletados. Sem o apoio de grandes empresas do setor de cosméticos, como a Natura, essas cadeias de produção desapareceriam.

Inicialmente, a economia da região era baseada na produção de borracha, mas com o declínio do mercado foi preciso buscar alternativas. Hoje em dia, as comunidades vivem principalmente da cultura de mandioca e da pesca.

Graças a produtos da floresta primária, o apoio que os fabricantes de cosméticos levam às populações da Amazônia contribui para complementar a renda das famílias e valorizar a riqueza do patrimônio ecológico local, incentivando a sua preservação – uma questão de extrema importância no atual cenário mundial.