Em 2013, "selfie" foi eleita palavra do ano pela Oxford Dictionaries. O fenômeno de fazer um autorretrato com o smartphone e compartilhar na Internet bombou em 2013 e continua dando o que falar em 2014. A etimologia do termo inglês reúne a raiz self (que corresponde ao prefixo "auto" e significa "si mesmo") e o sufixo "ie", que confere ao vocábulo uma dimensão amical e fofa. Segundo pesquisa da Oxford Dictionaries [1], o uso da palavra selfie cresceu mais de 17.000% em um ano.

"Selfie" – o fenômeno

Quer sejam feitos por anônimos, celebridades ou políticos (como o selfie de Obama, Cameron e Thorning-Schmidt no funeral de Nelson Mandela), a teatralização de si mesmo está na moda e é facilitada pela evolução das novas tecnologias. A socialite Kim Kardashian chegou a divulgar uma série de conselhos para tirar o "selfie perfeito", mencionando inclusive a famosa "cara de pato".

Alguns especialistas têm tentado compreender esse fenômeno que virou febre entre os jovens e pode ser descrito como "o marco de uma nova era na técnica de produzir uma imagem de si mesmo". Encomendado a um artista na época de nossos antepassados, o retrato hoje está ao alcance de todos, possibilitando a divulgação de um estado de espírito ou de uma faceta da personalidade e estabelecendo uma linguagem própria que favorece o compartilhamento.

O selfie hoje faz parte do dia a dia. Uma pesquisa realizada pelo Instituto IPSOS/Association pour la Promotion de Soi, cujos resultados foram divulgados em outubro de 2013, revela a importância da teatralização de si mesmo. Entrevistados sobre o por quê de tirar fotos digitais, 48% de franceses responderam: "para fazer autorretratos e ser o protagonista de uma cena". Na faixa etária de 15-29 anos, essa resposta alcançou 61%. [2]

"Selfie" e beleza

Enquanto alguns se mostram preocupados com o fenômeno, farejando uma exacerbação do narcisismo, outros veem uma metamorfose nos padrões visuais. Em um artigo da revista Nouvel Observateur, André Gunter fala de "estética do diálogo", pois a finalidade "não é ser bonito, mas participar de uma atividade lançada como moda pelas redes sociais e capaz de criar um novo padrão visual. Ninguém precisa ficar lindo, pois não se trata de uma obra de arte. O importante é que a imagem gere interação e diálogo". [3]

E se o fenômeno dos selfies estivesse transformando padrões de beleza, fazendo surgir um modelo singular, bem diferente dos ícones apresentados nas revistas de moda? Essa foi a pergunta feita pela Dove em um documentário realizado por ocasião do Sunday Film Festival, exibido em 20 de janeiro de 2014. No comunicado, a marca afirma que "as redes sociais oferecem uma oportunidade para criar uma mídia própria, para personalizar a beleza e influenciar o diálogo sobre esse tema". Mais de 55% das mulheres, segundo o estudo da Dove, consideram que as mídias sociais desempenham um papel mais importante que os meios de comunicação tradicionais no que se costuma chamar beauty conversation (diálogo de beleza, em tradução livre). [4]

Seguindo a linha das campanhas da Dove, que há dez anos exaltam a "real beleza" e valorizam a autoestima, o novo filme evidencia a influência da imagem que cada um tem de si na aceitação de uma beleza diferente, que não precisa ser perfeita. Um filme que convida todas as mulheres a compartilharem sua visão da beleza em Twitter #BeautyIs e alimenta a reflexão sobre os novos padrões de beleza e feminilidade.