Que o Brasil é um dos maiores consumidores de cosméticos, o mundo todo já sabe. Mas que o país tem uma instituição pública de ensino que é líder em pesquisas científicas em cosmetologia pode ser uma boa surpresa para grande parte do mercado. A USP (Universidade de São Paulo) conquistou a primeira posição no estudo State of Innovation 2016, realizado pela Thomson Reuters, e ficou à frente de nomes de peso no ramo científico, como a agência Food and Drug Administration (FDA), responsável por testes de produtos alimentícios, farmacêuticos e de beleza nos EUA, a gigante multinacional Procter & Gamble e a universidade norte-americana Harvard.

Campus de Ribeirão Preto da USP, onde fica o NEATEC

Campus de Ribeirão Preto da USP, onde fica o NEATEC

Criado para analisar os dados globais de propriedade intelectual como principais indicadores de inovação, o estudo fez o levantamento dos depósitos de patentes e publicações científicas datadas de 2005 a 2015 em doze áreas tecnológicas, incluindo eletrodomésticos, equipamentos médicos, telecomunicações e biotecnologia. Dentro da categoria cosméticos e bem-estar, a USP publicou neste período 177 artigos, seguida pela FDA, com 108.

O destaque alcançado pela USP é de grande relevância, pois mostra o engajamento dos grupos de pesquisadores na universidade. Este reconhecimento nos garantirá apoio e recursos para mantermos esta posição”, diz a Prof. Dra. Patrícia Maia Campos, que há mais de 20 anos atua com pesquisa e desenvolvimento de cosméticos.

Em 1998, ela fundou o Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos (NEATEC), dentro da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Localizado no campus de Ribeirão Preto, ele é responsável por grande parte dos artigos e patentes da universidade no setor de beleza. “O primeiro desafio enfrentado foi o reconhecimento da área cosmética como ciência na universidade para a obtenção da infraestrutura adequada e apoio para a realização de pesquisas de ponta”, afirma Campos.

Hoje, o NEATEC desenvolve diferentes projetos em cosmetologia, que vão desde a criação de formulações inovadoras para diversos tipos de peles e cabelos até a sua comprovação científica de eficácia, utilizando técnicas avançadas de biofísica não invasivas. O núcleo contribui com empresas cosméticas e de produtos dermatológicos, além de ser responsável pela divulgação de alertas científicos para comitês de saúde e a formação de mestres e doutores.

Para chegar à liderança no State of Innovation, Campos aponta o suporte fundamental de instituições de apoio à pesquisa, como a FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo), e parcerias com o setor produtivo. “Para que a USP possa manter a excelência na área de cosméticos, alavancando ainda mais os resultados obtidos na última década, é necessário alinhar a pesquisa às necessidades do mercado. Firmar parcerias com as empresas é o meio mais rápido para gerar inovação”, declara.

Os estudos de seu núcleo apontam algumas tendências para o futuro do setor. A professora destaca a aplicação da nanotecnologia no desenvolvimento de fotoprotetores mais eficazes, a criação de novos produtos dermocosméticos multifuncionais e pesquisas que explorem o mecanismo de ação de substâncias ativas com potenciais benefícios para aplicação em cosméticos.