Mathieu Hebert

Mathieu Hebert

Premium Beauty News – Qual o potencial de inovação que a ciência óptica e o estudo de superfícies coloridas têm a oferecer?

Mathieu Hébert - No Institut d’Optique Graduate School, prestigiosa escola de engenharia onde atuo, realizamos pesquisas sobre produtos que têm funções visuais e sobre sua aparência. Nosso trabalho consiste em identificar e compreender os atributos de percepção, com base em modelos físicos ou matemáticos que descrevem as cores, o brilho, a textura e a transparência. Usando técnicas macroscópicas, estudamos a forma como a luz é refletida pela matéria. A título de ilustração, somos uma das primeiras equipes do mundo a ter estudado materiais impressos não somente do ponto de vista do reflexo, como também da transmissão da luz – um tema sobre o qual escrevi minha tese, em 2006, na École Polytechnique Fédérale de Lausanne, e que vem sendo abordado em muitas outras publicações [1].

O objetivo dessas pesquisas é, acima de tudo, aprimorar o controle da aparência, mas esse trabalho também contribui para o desenvolvimento de novos efeitos visuais. Isso oferece um grande potencial de inovação. A aparência é uma preocupação muito presente na sociedade: as pessoas buscam, cada vez mais, otimizar a qualidade visual de si mesmas, bem como a qualidade visual de seus produtos.

Premium Beauty News - Que instrumentos de medição o senhor utiliza?

Mathieu Hébert – Utilizamos instrumentos clássicos de medição, como espectrofotômetros, gônio-espectrofotômetros, imageamento espectral e imageamento de luz polarizada, além de máquinas fotográficas. Em colaboração com os alunos engenheiros ou matriculados no Master, somos capazes de montar aparelhos especiais para avaliar, por exemplo, o grau de translucidez de um material de impressão 3D.

Nosso trabalho, que se baseia em medição, modelização e predição, prioriza métodos fáceis de realizar e modelos matemáticos que ofereçam maior simplicidade, de forma que possam ser utilizados posteriormente pela indústria. No campo da impressão, por exemplo, em vez de realizar medições com um extenso leque de cores que pode abranger mais de 2.700 tonalidades para um determinado material – método que ainda hoje é utilizado nas melhores gráficas –, os modelos matemáticos permitem fazer medições com uma pequena amostra de apenas aproximadamente 40 cores impressas e, a partir desses resultados, prever todas as outras. As vantagens são consideráveis quando é preciso recomeçar as medições com outro tipo de material.

Premium Beauty News – Que características são específicas à área de cosméticos?

Mathieu Hébert – Além de ser um setor em que o aspecto visual tem grande importância, a área de cosméticos trabalha com uma matéria-prima muito especial.

Os cabelos, por exemplo, não são superfícies planas nem têm uma cor única – ao contrário, são formados por um mosaico de pequenos segmentos coloridos. As minúsculas placas presentes na superfície da cutícula dos fios produzem uma série de reflexos: exteriormente, os reflexos proporcionam a impressão de brilho; por baixo das placas, o reflexo produzido é geralmente colorido, em razão dos efeitos de interferência. A regularidade das placas da cutícula é determinante para o tipo de reflexo e, portanto, para a percepção que temos da saúde dos cabelos.

Outro exemplo é a pele, uma matéria-prima viva, translúcida e relativamente heterogênea. Só podemos analisar a pele por meio do reflexo, pois não é possível colocar um instrumento por trás, como fazemos com um papel ou um tecido. A isso se soma outra dificuldade: o fato de ser translúcida, especialmente em relação à luz vermelha, impedindo a realização de medidas na pele, visto que muitos espectrofotômetros não são adaptados a esse tipo de superfície. Nesse caso, o imageamento espectral é uma boa alternativa, embora seja um recurso utilizado principalmente em laboratório.

Premium Beauty News – Que temas relacionados ao setor de cosméticos a sua equipe vem pesquisando?

Mathieu Hébert – Temos trabalhado na predição da cor da pele com maquiagem, com base no conhecimento inicial das características tanto da pele limpa como do produto de maquiagem usado. Além disso, acompanhamos a evolução das cores ao longo do tempo. Em parceria com a empresa Newtone Technologies, de Lyon, e com o CHU (hospital universitário) de Saint-Étienne, estamos atualmente orientando uma tese sobre imageamento espectral 3D do rosto, que aliás recebeu o prêmio da melhor publicação na conferência Material Appearance, realizada em San Francisco em fevereiro de 2018.