Jomar Beltrame, vice-presidente do Sistema Embelleze

Jomar Beltrame, vice-presidente do Sistema Embelleze

As indústrias da beleza e da moda definiram padrões estéticos continuamente perseguidos por consumidoras em todo o mundo. Mas em um país miscigenado como o Brasil, referências associadas a características europeias e norte-americanas raramente representam a realidade.

Mais da metade (53,6%) da população brasileira é formada por negros e pardos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a representatividade negra na mídia e nos ideais de beleza ainda é bastante restrita. Além disso, o mercado brasileiro de cosméticos é limitado quanto à oferta de produtos que atendem às características específicas da pele negra e dos cabelos cacheados. Resultado: o mercado formado por 104 milhões de brasileiros negros ainda é encarado como um nicho.

Nos últimos anos, porém, as brasileiras têm se identificado cada vez mais com sua própria beleza, valorizando o visual natural dos fios naturais e realçando seu tom de pele com maquiagens desenvolvidas especialmente para esse mercado. A exaltação à beleza negra ganha força em episódios como a vitória de Sabrina de Paiva no concurso Miss São Paulo 2016. Em agosto, a edição americana da revista Vogue se referiu a Taís Araújo como “a estrela de TV mais estilosa do Brasil”, em uma matéria que não apenas celebra a beleza e os looks da atriz, mas seu engajamento na luta contra o preconceito e o racismo.

A valorização dos cabelos cacheados e a busca por tratamentos que mantenham os fios saudáveis são um novo mercado que ganha força no Brasil, destaca o vice-presidente do Sistema Embelleze, Jomar Beltrame. Em 2014, a marca criou uma linha específica para o cuidado com os cachos, que foi ampliada e hoje conta com 60 produtos diferentes, entre shampoos, condicionadores, cremes e finalizadores.

Há cerca de três anos, identificamos um movimento de valorização dos fios naturais e vimos que o empoderamento das mulheres de cabelos cacheados vinha ganhando espaço no Brasil. Percebemos que era hora de investir em um novo mercado e criamos nossa primeira linha segmentada: a família Meus Cachos”, explica Beltrame. A linha Rituais Meus Cachos, um dos lançamentos deste ano, é composta por produtos formulados com óleos vegetais e ingredientes que proporcionam texturização, hidratação e combatem o frizz.

O executivo acredita que tendência veio para ficar. “Estamos fazendo pesquisas e testes ininterruptamente, para não só acompanhar essa demanda, como sair na frente com produtos inovadores”, acrescenta.

A oferta de artigos de beleza voltados à população negra é recente no Brasil e foi só a partir dos anos 1990 que o acesso se tornou possível pela indústria local, como aponta a linguista Amanda Braga, autora do livro ‘História da Beleza Negra no Brasil’. No mercado de maquiagem, esse movimento é ainda mais sutil, com uma oferta de produtos ainda tímida e pouco divulgada. A Quem Disse, Berenice? estampa belezas negras em algumas campanhas e aposta na diversidade de cores para atender às várias tonalidades de pele encontradas no país. São mais de 100 cores de batom, 70 de sombra e 50 de esmalte. Segundo a marca, bases, corretivos e pós faciais são alguns dos produtos específicos para esse mercado.

Fomos estudar a fundo os tons de pele das brasileiras e construímos uma régua de 18 tons para que cada mulher possa encontrar a base que mais combina em sua pele. Ela é fruto de um estudo realizado com cerca de 250 brasileiras, que levou em conta mulheres de 50 ascendências diferentes e 48 tonalidades de pele”, explica Marcella Nogueira, gerente de maquiagem e perfumaria da Quem Disse, Berenice?.

A Phebo, pertencente à Granado e conhecida por seus sabonetes, também possui corretivos, blushes e bases para a pele negra em sua linha de maquiagem, lançada em 2012. Os produtos são livres de óleos e parabenos, desenvolvidos para atender à oleosidade natural da pele negra.