João Carlos Basilio, presidente da ABIHPEC

João Carlos Basilio, presidente da ABIHPEC

Brazil Beauty News - Em maio, entrou em vigor a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre o comércio atacadista de cosméticos. Qual será o impacto da elevação da carga tributária para o setor?

João Carlos Basilio - Com o aumento da tributação, a indústria nacional perde competitividade e atratividade no mercado interno. A consequência é a queda das oportunidades de trabalho, além da revisão dos projetos de expansão e investimentos das empresas. Estudos encomendados pela ABIHPEC estimam que o preço dos produtos afetados pela medida pode subir até 12,5% acima da inflação. O estudo prevê também uma queda média de 7% no volume de vendas, podendo chegar a 17% em alguns itens. É importante lembrar que os produtos que foram alvo da medida do governo são considerados cada vez mais essenciais pela população, sobretudo com a crescente ascensão da mulher no mercado de trabalho. Por isso, além da queda nas vendas, haverá uma procura maior por produtos de menor valor agregado. Esse cenário gera uma economia perversa, pois as indústrias não terão incentivos para investir em inovação, limitando o acesso do consumidor a produtos com benefícios adicionais importantes.

Brazil Beauty News - Quais são as consequências da volatilidade do dólar para a indústria?

João Carlos Basilio - Passado o período de grande valorização fictícia do real, o que se vê de 2011 até hoje é a desvalorização da nossa moeda frente ao dólar. O impacto da variação do câmbio – que foi de R$1,70 para R$3,20 – recai diretamente sobre os negócios, já que 80% das matérias-primas do setor são importadas. Mas não acredito que a alta do dólar resulte no aumento dos preços ao consumidor. Cada empresa adotará uma estratégia, mas como o market share nesse mercado é muito valioso, devemos assistir uma queda nas promoções até que os preços sejam equalizados. É provável que haja mudanças nas margens das empresas, que precisam equilibrar a alta do dólar, o aumento da tributação sobre o setor e a própria retração da economia brasileira.

Brazil Beauty News - O crescimento da participação da classe C e o acesso das classes D e E aos produtos de HPPC é um fenômeno relativamente recente no Brasil. Qual é a importância dessa fatia do mercado para o desempenho do setor?

João Carlos Basilio - Os produtos de HPPC são fundamentais na vida de todos os cidadãos, independentemente da classe social a que pertençam. O aumento do poder de compra das classes C, D e E permite o acesso a produtos que antes eram apenas objeto de desejo. Nos últimos tempos, a ascensão dessas classes viabilizou a compra de produtos com maior valor agregado. Com a retração da economia e o aumento da tributação, a tendência é que o consumidor não deixe de utilizar esses produtos, mas busque itens com menor valor agregado.

Brazil Beauty News - Sobre a recente renovação do convênio entre a ABIHPEC e a APEX-Brasil, qual é a dimensão do projeto Beautycare Brazil para as exportações da indústria de cosméticos?

João Carlos Basilio - O objetivo do Beautycare Brazil é apoiar e fomentar as exportações brasileiras do setor, desde a capacitação e preparação das empresas até a internacionalização. Em 2014, 58 companhias associadas ao programa exportaram US$183,2 milhões, um valor 16% superior ao ano anterior. A nova realidade cambial já atraiu 20 novas empresas, o que deve gerar um novo impulso exportador em 2016. Os produtos brasileiros têm forte apelo junto aos consumidores de outros países e a exportação pode se tornar um importante canal para amenizar os impactos desse cenário econômico desfavorável que estamos enfrentando. As exportações totais do setor passaram de US$387 milhões em 2004 para US$798 milhões no ano passado. As empresas do Beautycare Brazil são responsáveis por cerca de 21% desse valor.

Brazil Beauty News - Investimentos em P&D são fundamentais para garantir o crescimento do setor. Como o projeto de nanoencapsulamento contribuirá para as pesquisas no segmento?

João Carlos Basilio - O desenvolvimento do projeto de nanoencapsulamento foi articulado pelo Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ITEHPEC), em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicos (IPT). O projeto foi desenvolvido no âmbito da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), e recebeu a adesão de quatro empresas do setor de HPPC. A tecnologia de nanoencapsulamento consiste em encapsular ativos para o desenvolvimento de formulações cosméticas mais estáveis, eficazes, e que proporcionam uma experiência sensorial diferenciada, trazendo mais valor agregado. O objetivo do ITEHPEC é apresentar oportunidades de inovação como essa para o setor.