A concentração de partículas finas, metais pesados, ozônio, monóxido de carbono e compostos orgânicos voláteis registrada no ar das grandes cidades muitas vezes ultrapassa os níveis máximos recomendados pela OMS. E o problema só está começando: a população urbana do planeta, que atualmente abrange 50% da humanidade, atingirá dois terços até 2050.

Alteração do equilíbrio da pele

Como certas partículas são 20 vezes menores que os poros da pele humana, os diversos tipos de poluição afetam a epiderme e podem prejudicar o seu equilíbrio. Vários estudos confirmam esse fato.

Segundo a Symrise e a equipe do Professor Jean Krutmann [1], entre outros, a exposição à poluição do ar e a partículas finas provoca aumento dos sinais externos característicos de peles reativas (eritema, desidratação, eczema), além de favorecer rugas mais profundas e a formação de manchas pigmentares.

Pouco a pouco, estão sendo revelados os mecanismos que entram em ação nesse processo. "Os fatores ambientais parecem agir obedecendo a uma lógica generalizada, que envolve o receptor de hidrocarbonetos aromáticos AhR, presente em diversos tipos de células cutâneas: queratinócitos, fibroblastos, melanócitos e células de Langerhans", afirmam os autores de um artigo publicado na revista Addiactive, do Grupo Gattefossé.

Não é de surpreender que os consumidores busquem soluções especialmente adaptadas a esse problema. Segundo a Mintel, entre 2011 e 2013 foi observado um aumento de 40% no número de cosméticos que anunciam efeito antipoluição lançados no mercado.

Ingredientes cosméticos adaptados

Nos laboratórios dos fornecedores de ingredientes cosméticos, várias estratégias estão sendo adotadas. Vejamos alguns exemplos.

Algumas marcas buscam isolar a pele, protegendo-a do ambiente externo por meio de uma película não oclusiva. O Pollustop, da Solabia, é um polissacarídeo ramificado, desacetilado e de alto peso molecular, capaz de formar uma matriz protetora. A TRI-K aposta no PhytoVie Defense, copolímero à base de plantas, para criar um escudo contra a poluição. A Lipotec, em sinergia com a empresa Lubrizol, lançou o Pollushield, ingrediente ativo funcional que, além de oferecer propriedades de quelação de metais, tem ação antioxidante e antilipoperoxidante. Já a Silab comercializa o Filmexel, biopolímero composto por dois polissacarídeos que criam como uma segunda pele com efeito protetor.

Outras empresas do setor resolveram apostar em ingredientes com alto poder antioxidante, antilipoperoxidante, antiglicação e antirradicais livres. A Naolys lançou o Smooth Lightening Rose Blanche, que diminui a formação de radicais livres originados por raios UVB e poluição, dando mais viço à pele. A Phenbiox mostrou que, em ambientes poluídos, seu princípio ativo Hydropom, rico em licopeno de tomate, mantém forte atividade antioxidante. O Plantasens Olive Active HP, da Clariant, atua na peroxidação de lipídios induzida pelos raios UV, a fim de prevenir o processo de glicação. Para combater a inflamação, a ID BIO criou o Cell’intact, que reduz a resposta pró-inflamatória, reconstruindo e reforçando a arquitetura da epiderme. O receptor de hidrocarbonetos AhR é o alvo do Invincity, lançado pela Algues et Mer, bem como do Mitokinyl, da Silab. O extrato de algas castanhas Invincity®, com forte concentração de fucoides de alto peso molecular, diminui em 73% a expressão do AhR e repara os danos causados pela poluição. Rico em glucomananas, o Mitokinyl, além de desativar o receptor AhR, normaliza a síntese da proibitina, um tipo de mitocina que tem ação antipoluição.

Para combater os efeitos do estresse urbano, a Givaudan lançou o Neurophroline, que bloqueia a produção de cortisol e estimula a liberação de endorfinas. Por fim, o EPS White, da Codif, contribui para reduzir as manchas provocadas pela poluição, com ação direcionada para as sinapses pigmentárias.

Conceitos chave na mão

Algumas empresas vão ainda mais longe e oferecem conceitos "chave na mão". Um bom exemplo é a BASF, que selecionou quatro ingredientes complementares: Purisoft, que atua como uma película protetora; Arganyl, com alto poder antioxidante; Eperuline, que atenua a inflamação crônica; e PatcH2O, que reidrata a pele.

A Seppic lançou os MLPF (Modern Lifestyle Protection Factor), apresentados como novos FPS capazes de lutar contra o estresse urbano. Foram definidos seis níveis de proteção: o MLPF 1, por exemplo, oferece proteção contra a poluição associado ao Native Essence (que estimula a renovação celular de peles asfixiadas graças à liberação de CO2 cutâneo) e ao Sepitonic M3 (que age como um sopro de oxigênio, estimulando o metabolismo celular).

A Solabia, por sua vez, definiu cinco etapas para combater a poluição: prevenção, defesa, fortalecimento, estimulação e reparação. Cada etapa requer princípios ativos adaptados.