Juliana Martins, analista de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel

Juliana Martins, analista de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel

De um lado, a indústria cosmética no Brasil enfrenta queda nas vendas, dólar alto e aumento dos impostos. De outro, o crescimento do índice de desemprego e da inflação deixam os consumidores com o poder de compra cada vez mais reduzido. Nesta equação, as embalagens maiores podem ser uma saída para o consumo de cosméticos, segundo Juliana Martins, analista de Beleza e Cuidados Pessoais da Mintel.

Os consumidores estão buscando maneiras de economizar nas compras e ir menos ao ponto de venda pode fazer com que sintam que estão gastando menos. É aí que entram os produtos com embalagens maiores. Eles duram mais e o consumidor precisa comprá-los com menos frequência,” afirma Martins.

Praticidade também é um fator que contribui para a tendência, principalmente no caso de consumidores que resistem às compras online e se deslocam até as lojas físicas para experimentar e adquirir os produtos. Um relatório da Mintel sobre sabonetes e produtos para banho, divulgado em 2014, revela que 44% dos entrevistados afirmaram que preferem sentir o aroma do produto antes de comprá-lo. “Ou seja, a fragrância é um fator de influência na decisão de compra”.

Ela destaca que o estudo Comércio Eletrônico, publicado no mesmo ano, apontou que 19% dos brasileiros não adquiriram artigos de higiene e beleza pela internet nos últimos 12 meses, mas admitem essa possibilidade no futuro. Porém, mais de 7 em cada 10 brasileiros (75%) disseram não ter usado o canal online nos últimos 12 meses e afirmaram que não pretendem comprar futuramente. “Os brasileiros consideram importante que as lojas ofereçam formas de experimentar um produto antes de comprá-lo”, conclui.

O número reduzido de visitas ao ponto de venda é somado à prática de compartilhar um produto de beleza ou de higiene pessoal com outros membros da família. Segundo Martins, em um relatório da Mintel de 2015, focado em itens para bebês e crianças, 17% dos pais disseram que os filhos, com idade entre 8 e 12 anos, usam o mesmo xampu ou sabonete que eles. “A ideia é que um mesmo produto possa ser usado diversas vezes, por um período prolongado, e dividido com outros membros da família”, explica a analista.

Essa tendência não é exatamente uma novidade no Brasil, que já fabricava cosméticos nas tradicionais embalagens jumbo. Porém, elas eram mais comuns no mercado profissional e agora chegaram com força total ao consumidor final, a exemplo dos xampus de 750ml e cremes de tratamento de 1kg, da TRESemmé. O fabricante de cosméticos também encontra mais opções disponíveis entre empresas produtoras de embalagens, como Amcor, Monte Sião Plásticos e Globalpack.

A sustentabilidade é mais um fator de incentivo ao consumo, já que um frasco grande jogado fora polui menos o meio ambiente que o descarte de vários de menor tamanho. Segundo Martins, uma pesquisa recente da Mintel mostrou que 39% dos millennials dão preferência a marcas sustentáveis.

A tendência por volumes maiores vai na contramão do segmento de luxo, dominado por produtos importados e caracterizado por embalagens pequenas e sofisticadas. Porém, essas marcas têm sentido com mais intensidade os efeitos da recessão econômica, já que muitos brasileiros têm preferido comprar produtos locais. “As empresas nacionais aproveitaram a alta do dólar para inovar e se reposicionar no mercado, usando tecnologias de ponta no desenvolvimento de seus produtos”, destaca Martins.

Ela cita como exemplos os esmaltes, que chegaram a ser vistos como itens de luxo depois de a marca francesa Chanel comercializar as cores criadas para seus desfiles de moda. “As brasileiras fizeram de tudo para ter um vidrinho que custava mais de US$ 30. Porém, nosso relatório Maquiagem e Esmalte para Unhas, de abril de 2015, mostrou que 76% das consumidoras estão dispostas a pagar menos de R$ 10 por um esmalte e 14% entre R$ 10 e R$ 39,99”, afirma Martins.