O orçamento dedicado à publicidade de um cosmético costuma ser expressivo, mas poucos fabricantes brasileiros apostam na amostra grátis, uma importante ferramenta de contato direto com o consumidor. A eficácia da estratégia foi comprovada por uma pesquisa da consultoria britânica Euromonitor, realizada em 16 países, incluindo o Brasil. O levantamento identificou que as amostras são o quarto maior influenciador para a compra de produtos de beleza, perdendo apenas para experiências anteriores (com a marca ou o produto), recomendações da família e de amigos, e preço.

Manuella Bossa, CEO da Truss

Manuella Bossa, CEO da Truss

A perfumaria é a categoria em que as amostras têm maior influência, seguida por maquiagem, cuidados com a pele e com os cabelos. Dentre os 16 mercados pesquisados, o Brasil aparece como o quarto mais afetado pela estratégia. A França ocupa o primeiro lugar e os EUA têm a vice-liderança na eficácia das amostragens.

Para a administradora de empresas Camila Almeida, fundadora do site amostrasgratis.org, o marketing de experimentação deveria ser mais explorado pelas empresas brasileiras, seguindo a tendência norte-americana. “Em comparação com um anúncio na TV, por exemplo, o investimento é infinitamente menor e o retorno é bem maior. O fabricante só tem gastos de postagem, pois as amostras saem pelo preço de custo e não são tributadas pelo governo. Além disso, a estratégia possibilita o envio do produto direto para o público-alvo, que é mais eficaz do que divulgar a imagem da marca para qualquer pessoa por meio de anúncios”.

Há oito anos, o site nasceu como um blog, feito com a intenção de explicar como Almeida havia recebido um medidor de glicose enviado por uma empresa dos EUA. Os amigos que tinham diabetes pediram o produto e repassaram a informação. Hoje, o empreendimento funciona como um agregador e distribuidor de amostras grátis de vários segmentos, identificando as empresas que as oferecem e as maneiras de conseguir os produtos. Basta seguir a página do site no Facebook e fazer um cadastro. Mas Almeida é enfática quanto à importância de o consumidor só pedir aquilo que realmente lhe interessar. “A empresa envia amostras para conquistar mercado. Se o consumidor pede o item e não o usa, gera um gasto desnecessário para o fabricante, que não tem o retorno esperado e pode deixar a estratégia de lado”.

O investimento na distribuição de amostras pode ser substancial. A brasileira Truss Cosmetics, voltada para cabeleireiros profissionais, investe de R$ 300 a R$ 500 mil por mês, afirma a CEO Manuella Bossa. “Esse investimento é muito importante e reverte em um grande percentual das vendas”, ela explica.

Segundo Bossa, além das amostras entregues pelos representantes de vendas da Truss nos salões de beleza, há produtos para os profissionais oferecerem aos seus clientes. Os itens também são distribuídos via cadastro no site, em feiras de negócios e encartes de revistas. “As amostras são usadas para a aproximação e experimentação do produto e, consequentemente, geram consumo, visibilidade da marca e podem ser o fator decisivo para que o cliente ou o profissional adquira a mercadoria”, enfatiza.

Em uma pesquisa realizada a pedido do Brazil Beauty News no perfil do Facebook da amostrasgratis.org, 222 pessoas afirmaram ter recebido amostras de cosméticos que nunca tinham usado. Dentre elas, 84% disseram ter gostado do produto e afirmaram que o comprariam. Por outro lado, 14% relataram ter gostado do produto, mas não o comprariam pois o preço é muito elevado. Pouco mais de 1% respondeu que não gostou do item, mas experimentaria outros produtos da marca, e apenas uma pessoa respondeu que não gostou da amostra e não compraria nenhum outro produto do fabricante.

Questionada sobre o que acha de empresas que não enviam amostras grátis, a maioria dos usuários respondeu que as marcas perdem a oportunidade de mostrar a qualidade do produto e ganhar consumidores. “A amostra pode não agradar ao cliente que a usou, mas o fato de a empresa enviar o item gera credibilidade e confiança na marca. O consumidor pode até não usar aquele produto especifico, mas é um potencial cliente da marca. Além disso, há sempre a possibilidade de que o produto viralize na internet, pois as pessoas gostam de postar fotos do que recebem e seus amigos acabam conhecendo a marca”, conclui Almeida.