As duas edições do Sustainable Cosmetics Summit ofereceram um amplo panorama dos mais recentes avanços em matéria de sustentabilidade na indústria de cosméticos. Confira a seguir alguns dos destaques dos dois congressos. 

1. Soluções para o problema das embalagens

As embalagens constituem cerca de um terço do lixo doméstico, totalizando praticamente um quarto de todo o material plástico jogado no oceano. Diante do impacto que isso representa para o meio ambiente, a indústria de cosméticos precisa encontrar saídas. Para ilustrar esse combate, Tom Szaky, fundador da TerraCycle, explicou em detalhes como sua empresa vem conseguindo retirar material plástico das praias. O objetivo do trabalho, desenvolvido com a P&G, a Unilever e outras empresas do setor de beleza, é usar todo esse "plástico oceânico" em novos formatos de embalagem. Tom Szaky ressalta, porém, que o reúso do plástico dos oceanos é apenas um expediente temporário, sendo indispensável, portanto, que os fabricantes de bens de consumo encontrem uma solução de longo prazo, buscando outros tipos de materiais para as embalagens, visto que mais de 90% do plástico presente nos oceanos não pode ser recuperado. Segundo ele, a solução para o problema requer que "passemos de um modelo linear para um modelo circular".

2. Aprender com a natureza

Vários palestrantes exortaram a indústria de cosméticos a encontrar soluções nas muitas substâncias que a natureza tem a oferecer. Para comprovar o princípio de que "na natureza nada se perde", Frances Sansão, da Pura Bioglitter, explicou como sua empresa fabrica glitter biodegradável usando algas como matéria-prima.

3. Ampliar o leque de ingredientes

Desde os primórdios da indústria, os ingredientes naturais sempre foram majoritariamente derivados de plantas. Hoje, no entanto, novos princípios ativos estão sendo criados a partir de algas, árvores e bactérias. Mariana Royer, fundadora e CEO da Bio Forextra, mostrou de que forma a biomassa de florestas pode produzir ingredientes ativos: a linha COSMOS de ingredientes naturais certificados é produzida por essa empresa canadense a partir de cascas de árvores de florestas boreais. Para completar, Damien Perriman, da Genomatica, explicou em detalhes o processo biotecnológico que sua empresa vem usando para fabricar butilenoglicol a partir de cana-de-açúcar. 

4. Ingredientes naturais para lutar contra a poluição

Os ingredientes naturais estão conquistando espaço entre os cosméticos e cuidados pessoais destinados a proteger a pele contra a poluição e tratar os danos causados por poluentes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 90% da população do planeta vive em regiões poluídas. Nesse segmento, Rodrigo Fuscelli Pytel apresentou substâncias ativas naturais desenvolvidas pela empresa brasileira Mapric para proteger a pele contra a poluição atmosférica. 

5. Inovar com ingredientes naturais

Os fabricantes de cosméticos têm desenvolvido produtos inovadores a partir de matérias-primas naturais. Daniel Gonzaga, diretor de P&D da Natura Brasil, falou sobre a inovadora linha de produtos capilares Ekos Patauá, que tem como principal ingrediente o óleo de patauá, usado há muitos séculos por tribos da Amazônia. Daniel Gonzaga acredita que os ingredientes naturais oferecem um vasto potencial ainda desconhecido, haja vista que menos de 5% da biodiversidade do Brasil foi identificada e valorizada. 

Jeremy Riggle, Chief Operating Scientist da Mary’s Medicinals, falou sobre as perspectivas de integrar ingredientes à base de Cannabis à indústria de cosméticos. Segundo ele, o Cannabis é uma preciosa fonte de materiais ativos, visto que os canabinoides presentes em sua composição oferecem um amplo leque de benefícios para a pele. 

6. Posicionar-se em relação à sustentabilidade

À medida que a questão da sustentabilidade ganha importância, cada vez mais os fabricantes de cosméticos e ingredientes são levados a afirmar suas posições nessa área. A título de exemplo, Chris Sayner, da Croda, traçou um panorama detalhado sobre os diversos padrões adotados por essa empresa especializada na fabricação de ingredientes químicos e sobre como ela vem divulgando suas iniciativas em matéria de sustentabilidade. Entre outros, a Croda desenvolveu uma "Matriz de Materialidade", com a colaboração dos principais protagonistas da empresa e stakeholders externos. 

7. Tendências de consumo

O estilo vegano vem crescendo consideravelmente no Brasil, onde um número cada vez maior de empresas dos setores de alimentos e cosméticos estão adotando o selo Vegan Society. Adriana Solange Khouri, da Emile Cosméticos, fez um relato detalhado de como a empresa desenvolveu sua linha de produtos com certificação vegana.

A demanda por cosméticos orgânicos tornou-se um fenômeno global e muitas empresas latino-americanas têm trabalhado para desenvolver gamas de produtos certificados. Patrícia Lima, fundadora da empresa brasileira Simple Organic, explicou que um dos maiores desafios é a prática antiética de greenwashing por parte de certas companhias da indústria de cosméticos. Completando o panorama sobre esse mercado, Ming Liu, da Organis, afirmou que atualmente 15% da população brasileira compra regularmente produtos orgânicos. A maioria desses consumidores vive no sul do país. 

8. Comunidades digitais

As marcas precisam interagir com as comunidades digitais a fim de tecer laços duradouros com os consumidores. Ignacio Garcia Zoppi, cofundador da Tree Intelligence, mostrou aos participantes que a criação de comunidades digitais é cada vez mais motivada por valores essenciais, como o veganismo ou o uso de cosméticos seguros.

9. A crescente influência da geração Millennials

Demonstrando grande interesse pelas questões ecológicas, os consumidores da geração Millennials buscam concretizar seus ideais de sustentabilidade na hora de fazer compras. Segundo Leonardo Vils, da Quorom, a influência desses consumidores sobre a indústria de produtos sustentáveis vem crescendo à medida que esse público conquista maior poder aquisitivo. 

10. Mudar o comportamento do consumidor

Amarjit Sahota, da Ecovia Intelligence (organizadora do evento), afirmou que um dos principais obstáculos à sustentabilidade na indústria de cosméticos é o comportamento dos consumidores. O impacto dos produtos cosméticos e de cuidados pessoais sobre o meio ambiente só será reduzido se eles forem desenvolvidos, consumidos e descartados de forma responsável. Para mostrar que os materiais usados nas embalagens podem contribuir para a sustentabilidade da indústria, Dorota Bartosik, da Monosol, apresentou a linha de filmes hidrossolúveis desenvolvidos pela empresa para doses únicas de cosméticos e produtos de higiene pessoal.